As 121 mortes em operação policial no Rio de Janeiro (RJ) e a reação dos espíritas diante disto.
Marcelo Henrique e Marcus Braga
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Os cidadãos brasileiros espíritas, laicos, livres pensadores, humanistas, kardecistas e progressistas esperam das autoridades públicas e, principalmente, dos partidos políticos, que deixem de pensar, falar e atuar apenas e tão-somente com seus apetites eleitorais e de poder, para efetivamente permitirem que órgãos e instituições, que são constitucionais e permanentes, atuem nos grandes projetos sociais brasileiros, entre os quais se situa a segurança pública, para que ela, junto às demais ações de Estado possam buscar e alcançar a efetiva Justiça Social para Todos!
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Introdução: Mais um dia no cotidiano de um espírita brasileiro
Era para ser mais uma noite comum na vida de todos nós. Jerônimo, ao chegar da reunião mediúnica, no conhecido padrão de atendimento aos “desencarnados sofredores”, resolveu verificar as suas redes sociais. Logo se depara com uma dantesca cena, em vídeo: mais de 60 corpos colocados lado a lado em uma praça na localidade de Penha, no Rio de Janeiro (RJ), após uma operação policial de grandes proporções no dia 28 de outubro de 2025.
Meio incrédulo, imaginando que as imagens deveriam ser produto de Inteligência Artificial (IA), busca fontes confiáveis e finalmente confirma ser real aquela situação. Realmente um contexto que já não deveria mais fazer parte da sociedade mundial, nesta terceira década do Século XXI.
Resolve então postar no grupo da reunião mediúnica o estarrecedor vídeo, com os seguintes dizeres:

“Pessoal, relembrando o que diz “O livro dos Espíritos” na sua pergunta 763: A restrição dos casos em que se aplica a pena de morte é um indício do progresso da civilização? “Podes duvidar disso? Não se revolta o teu Espírito lendo os relatos dos mortifícios humanos que antigamente se faziam em nome da justiça e frequentemente em honra à Divindade; das torturas a que se submetia o condenado e mesmo o acusado, para lhe arrancar, a peso do sofrimento, a confissão de um crime que ele muitas vezes não havia cometido? Pois bem; se tivesses vivido naqueles tempos, acharias tudo natural e, talvez, mesmo como juiz, tivesses feito outro tanto. É assim que o que parece justo numa época parece bárbaro em outra. Somente as leis divinas são eternas. As leis humanas modificam-se com o progresso. E se modificarão ainda, até que sejam colocadas em harmonia com as leis divinas.”
Assim, fica a pergunta: O que Kardec pensaria disso tudo?”
Diante dessa “bomba” publicada no fraterno grupo, as reações são imediatas. Algumas, inclusive, mais alvoroçadas, com um “quê” explícito de violência e incompreensão. Aparecem certos chavões, muito comuns em manifestações de outros grupos e em ambientes sociais: “- Está com pena, leva pra casa!”. Ou, “-Não vim trazer a paz, e sim a espada!”.
Esses arroubos são repetidos em profusão, para a perplexidade do nosso personagem (mas, talvez, não, a nossa), enquanto se verificam, também, algumas falas dos que invocam a frieza daqueles que, diante os familiares que choram a morte dos seus – embora sejam estes, meliantes – não se preocupam em cogitar acerca do retorno das penas capitais, ao mesmo tempo em que vociferam diante do aborto, para eles um crime ainda maior, posto que mata inocentes.
Pilhado com a reação dos companheiros da reunião que terminara fazia menos de duas horas, e temendo pelo acirramento dos ânimos ou mais arroubos, Jerônimo, para evitar maiores contendas, apaga a postagem e pede desculpas. Então, resolve ir dormir, ainda angustiado pelas cenas que presenciou, assim como apreensivo ante a reação dos colegas. De fato, ele sentia a dor que a inconsistência de seus pares provoca em seu coração: sempre prontos ao “atendimento fraterno” dos que procuram a casa espírita (encarnados e desencarnados), mas sem qualquer empatia diante de corpos de pessoas mortas, empilhados.
De sua cama, na penumbra, vê na estante as obras de Kardec e procura imaginar o que o sábio Professor francês diria disso tudo. Pensa em sua trajetória como espírita, no Brasil, questionando onde foi parar o bom senso e a tal “fé raciocinada”, sobretudo diante de tantos julgamentos “ad hominem”, proferidos por aqueles que se julgam superiores em moralidade e em conhecimento espiritual, mas que, na prática, não conseguem conceber que as ações humanas decorrem, todas e inexoravelmente, do padrão de progresso que cada individualidade já conquistou em suas vivências reencarnatórias.
E isto, tanto em relação aos que se arvoram em juízes da atualidade, tanto quanto em relação aos que se envolvem na criminalidade, ceifando vidas ou sendo tragicamente mortos e, ainda, em relação àqueles que chamamos de “inocentes”, porque em meio aos tiroteios, acabam sendo vitimados.
Jerônimo se pergunta, então, o que Kardec, do alto de seu bom senso e elevação moral, estaria escrevendo acerca destes fatos: das pilhas de corpos, de mentes pilhadas, da morte do semelhante tratada com pilhéria, de um mundo maltrapilho afundado em contradições.
E, cansado do dia e sobrecarregado de tantas conjecturas dorme… Mas não descansa, envolvido em um sono mal dormido.
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A atualidade brasileira
O período histórico que vivemos tem nos surpreendido a cada dia. Seja pelos acontecimentos em si, seja pela sua difusão, e mais ainda, pela reação de muitas pessoas, de forma contraditória em relação às suas crenças e/ou seus recursos. O panorama é gerador e mantenedor de uma grave ambivalência, de pessoas-pilhas, com seus polos positivos e negativos, que podem se alternar diante da conveniência e da análise rasa das coisas.
Todavia, a tarefa que nos compete como espíritas é atuar com o necessário distanciamento das emoções exacerbadas, mas sem deixar de lado a sensibilidade que deve caracterizar o indivíduo que pretenda continuar sua trajetória progressiva para ser caracterizado, no futuro, como o “homem de bem” descrito tanto em “O livro dos Espíritos”, quanto em “O evangelho segundo o Espiritismo”, apesar dessa expressão estar muito desgastada atualmente.
Preocupa-nos sobremaneira a utilização de catástrofes – sejam elas locais, nacionais ou planetárias, nesta gigantesca aldeia global – para a pavimentação de discursos fáceis capazes de sensibilizar, ainda que em parte, a opinião pública. Diante do já conhecido – e tratado aqui neste Portal – Fla x Flu eleitoral, interminável e renovado a cada ano (mesmo que não hajam eleições, porque pelo calendário brasileiro, os pleitos são de dois em dois anos, municipal e nacional, respectivamente), tem-se o conveniente aparelhamento a partir de discursos.
O caso em exame
O problema da violência, em nosso país, como, também em outros, é crônico, sistêmico e endêmico. Causas sociais, históricas e aspectos também que estão enraizados no próprio indivíduo, Espírito imortal que retorna para mais uma experiência encarnatória, com as limitações humanas e contextuais de um plano (ainda) bastante inferior como o nosso. Mesmo que a premissa seja, sempre, inclusive no cenário atual desta terceira década do século XXI, a de que a maioria da população global NÃO seja delinquente, situações vivenciais podem colocar pessoas na suposta condição de criminosos ou de reféns da criminalidade – como é o caso das inúmeras vítimas que residem/trabalham em regiões que, costumeiramente, simbolizam locais “sitiados”, posto que geridos por um ou mais poderes paralelos, que exploram essas comunidades economicamente.
O relato hipotético e teatralizado que abre este ensaio é fictício, em termos de personagens e diálogos, mas reproduz a circunstância rotineira de muitos espíritas por meio das redes sociais, bem como traduz a ambiência de muitos grupos e instituições espíritas. Afinal de contas, o espírita não é um ser amorfo nem distanciado do cotidiano social e é bem comum e pontual que as ocorrências do “extra muros” da instituição possam ser analisadas sob a conformação espiritual-espírita. Pelo menos assim deveria ser e o exemplo deste roteiro está no conteúdo das obras de Allan Kardec, em especial nos fascículos mensais de sua “Revue Spirite”.

Kardec, encarnado estivesse, usaria as páginas do seu “Jornal de Estudos Psicológicos” para abordar situações como essa para trazer orientações das Inteligências Invisíveis e, também, do alto de sua experiência e capacidade, dissertar filosoficamente à luz do pensamento espiritista sobre diversificados contextos, enxergando o eterno e o ciclo reencarnatório dessas ocorrências, inclusive a luz da lei de causa e efeito.
Caberia a Kardec o desafio de comentar a luz da doutrina que codificou a ocorrência da mega operação das Polícias Civil e Militar do Estado do Rio de Janeiro (RJ), denominada “Operação Contenção”, deflagrada por volta das 5h30 do dia 28 de outubro de 2025, envolvendo cerca de 2.500 agentes públicos, ambas subordinadas e coordenadas por autoridades públicas do governo do Estado. As atividades foram realizadas nos complexos do Alemão e da Penha, na zona Norte da cidade, para o cumprimento de cerca de 100 mandados de prisão. Segundo a polícia civil, na data quando esse texto foi escrito (30/10/2025), foram 121 (cento e vinte e um mortos), 117 civis e 4 militares.
Kardec teria dificuldades não só de enquadrar o aspecto dantesco da situação posta, mas também de fazer os espíritas compreenderem o dito, dado que a pergunta 763 de “O livro dos Espíritos”, já citada, e que bem se aplica ao caso em comento, poderia sofrer meta interpretações a luz da Lei de Destruição da mesma obra, na linha de se justificar tamanha violência, em exercícios de deturpação da essência da Doutrina e também dos ensinamentos de Jesus.
Diante das Carnificinas
Pensamos que não há como qualquer brasileiro – e, principalmente, aquele que se diz espírita – ficar impassível ou não se indignar diante da situação vivida no dia 28 de outubro no Rio de Janeiro…
Trata-se de um ato estatal-policial que superou a histórica carnificina do Carandiru (com 111 mortos), considerando os números já divulgados (117 mortos) e que superam outras ações similares nas terras cariocas no passado recente, e que tão chocante quanto o ato em si, tem-se a reação das pessoas frente as redes sociais, sem nenhum tipo de verniz social, corroborando a célebre frase do escritor Umberto Eco (1932-2016) sobre que tipo de vozes a internet ampliou, e acrescentamos, que tipo de sentimentos tem cultivado.
Essa polarização verborrágica e escatológica, diante da frase de Jesus de que a boca fala do que o coração está cheio, indica corações assustados com a violência urbana e que só veem na gramática da violência extrema uma solução, que nada tem de estrutural, mas que possibilita a catarse que acalma esse pavor, inclusive de se descobrir tão imperfeito quanto os que são acusados.
O Céu é o limite?
Conforme dados jornalísticos e a opinião de especialistas consultados já nos primeiros dados divulgados da megaoperação, não. Não é o limite porque integrantes do Comando Vermelho (CV) têm utilizado sistematicamente drones para suas operações no narcotráfico e demais crimes e, em particular, no dia 28 de outubro, também se valeram de drones armados para o ataque às forças de segurança. Ou seja, em atividades que vão da espionagem, passando pelo transporte de drogas e objetos (em presídios), ao uso de armas letais. Na opinião de Roberto Uchôa, pesquisador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal, “O que aconteceu ontem no Brasil deixou evidente que o campo de batalha mudou, agora vai se disputar o céu” (Braun, 2025).
A operação em tela parece ser apenas o primeiro passo de uma escalada que pode gerar números e cenas ainda mais dantescos, em uma cidade castigada pela violência faz décadas, com consequências inimagináveis, o que nos convida, como espíritas, a olhar essa questão toda em uma visão mais ampla, não se alistando em disputas discursivas inúteis, na reflexão do que nós, como cidadãos e no âmbito de nossas instituições, podemos fazer frente a esse quadro, que não sendo inédito, mas é igualmente preocupante.

Os vários pesos das mortes – e das vidas que se defende
Como deve ser vista a morte pelos que se dizem espíritas. Como um acontecimento natural. Nascer e morrer são os dois pontos, inicial e final, de uma reencarnação, já consagrados no próprio adágio que, mesmo que não tenha sido escrito por Kardec, é a ele atribuído: “Nascer, morrer, renascer sempre e progredir continuamente: tal é a lei”.
Obviamente que a “naturalização” da vida e da morte (em especial desta última) não permite considerá-la como algo menor, nem menosprezar tanto uma quanto a outra, e nem a dor de quem fica ou de quem parte, sendo impossível relativiza-las sob parâmetros espíritas. Se a verdadeira vida é a consagrada pela imortalidade do Espírito – e o seu continuum, tanto no contexto espiritual (erraticidade ou vida imaterial) quanto no conjunto das encarnações necessárias ao progresso – devemos tratar a vida humana, físico-material, com muito respeito e cuidado, vendo-a ainda como oportunidade bendita, nas letras de “O livro dos espíritos”.
Deste modo, uma expressão que tem sido comum a partir dos embates nas redes sociais no Brasil: “bandido bom é bandido morto”, simplificadora, movida a sentimentos de vingança, não pode ser jamais encampada por qualquer indivíduo, espírita ou não, de mínimo bom senso – incluindo-se aí todos aqueles que se consideram espiritualizados ou religiosos, em especial os ditos cristãos, de qualquer igreja, seita ou organização religiosa.
O ódio generalizado direcionado, seja a alvos específicos, seja em geral (aos criminosos), não “combina” com quem se diz seguidor da fraternidade, caridade, benevolência, misericórdia e amor ao semelhante. E isto não é algo piegas ou fantasioso. É real. E está na própria prédica atribuída a Jesus de Nazaré: “quando fizerdes a um desses pequeninos, é a mim que o fazeis”. Ou, “ama ao teu próximo como a ti mesmo”.
No espectro da justiça humana, admite-se a utilização de meios disponíveis e cabíveis para a prevenção e a repressão da criminalidade, bem como o tratamento policial e jurídico-processual caso a caso. Mas, neste, em nenhuma circunstância e sob qualquer motivação, se admite o uso da força violenta para situações como essa descrita.
No segundo espectro, seja qual for a filosofia ou ideologia religiosa a que estejamos filiados, acredita-se que um mecanismo SUPERIOR, universal ou divino, dependendo da liturgia ou concepção, alcança a todos, nos mínimos atos, e distribui tal justiça, como disse Yeshua, “a cada um segundo suas obras”, de modo que NADA escapa ao instrumento judicial espiritual (utilizando uma expressão literária para tal definição). As religiões, aliás, costumam dizer que “Deus julga”, “Deus pune”, “Deus castiga”, etc. O que é uma analogia interessante…
Defender a vida?
Temos visto há bastante tempo os posicionamentos de igrejas ou religiões em território brasileiro, a exemplo do que ocorre em outros países. Notadamente, os núcleos das campanhas encabeçadas por organismos ou movimentos religiosos se posicionam pela defesa (manutenção) da vida (física, material, humana), nos seguintes temas: Aborto, Eutanásia, Pena de Morte e Suicídio. Em todos eles e em todas as situações, se brada: Não! E não admitem exclusões ou atenuantes, nem hipóteses descriminantes ou descriminalizadoras.
Trata-se, em verdade, de um expresso fundamentalismo: o da defesa incondicional da vida (qual vida e que vida?), atribuindo-a como “dom divino”, no seguinte adágio-mantra: “Só Deus concede a vida e somente ele a pode tirar”.
Na ambiência espírita, tem-se a decantada “Campanha em Defesa da Vida”, surgida na década de 1990, capitaneada pela Federação Espírita Brasileira (FEB), que defende as mesmas premissas. Mas, na prática, observa-se um silêncio profundo, tanto institucional quanto pessoal, em relação às temáticas mais agudas de nosso país, como a violência e a existência da “pena de morte” de forma generalizada em nossa sociedade – na forma dos assassinatos que são cometidos no dia a dia das cidades brasileiras e, também, na forma de rechaço à criminalidade, por meio de autoridades policiais.
Sobre isto nada dos espíritas em geral, nenhuma manifestação nem campanha específica, seja no sentido da contenção da violência, seja em relação ao desarmamento efetivo de indivíduos e grupos, nem apelos aos órgãos e poderes executivos, legislativos e judiciais para a minimização dos efeitos danosos da criminalidade e delinquência sobre comunidades e populações.

O meio espírita parece, assim, ser um cantor de samba de uma nota só, posto que somente se preocupa com um combate visceral contra o aborto, em todas as situações ou hipóteses. Particularmente, em relação a gestações derivadas de crime (estupro), inclusive de vulneráveis (menores ou deficientes), ainda justifica a manutenção da gravidez com a pífia e indevida justificativa de que seriam “provas” e/ou “expiações” para o progresso espiritual dos Espíritos envolvidos. Como se nos mecanismos da Justiça Divina, à luz do entendimento espírita, um crime fosse algo previsto espiritualmente e os seus efeitos, danosos, tivessem que ser suportados. Mas este não é o tema deste artigo, não diretamente.
Vida e morte são fenômenos absolutamente naturais. E têm de ser tratados com naturalidade e não com sacralidade. E isso inclui não menosprezar nem a vida nem a morte e de exigir, em qualquer cenário, o mais absoluto respeito à individualidade espiritual, seja ela uma pessoa comum distante do crime, seja um criminoso.
E, no caso sub examen, é imprescindível aos espíritas conscientes que se manifestem com destacada indignação diante de uma verdadeira política de extermínio que tem caracterizado muitas ações policiais, não só no Rio de Janeiro (RJ), como em outras médias e grandes cidades brasileiras, as quais representam altíssimos custos para a sociedade, seja em termos de vidas ceifadas, feridos, patrimônios públicos e privados destruídos, assim como a generalização do conceito de delinquente para alcançar cidadãos comuns e que não guardam qualquer relação com o crime. E, neste sentido, deve-se ainda ponderar no sentido da utilização do aparato policial para impor prejuízos e violência às populações de comunidade e aos mais pobres.
Conclusões, ainda que distantes de alguma certeza
Entristecidos estamos. E continuaremos, diante da falta de perspectiva de breve (imediata) resolução do grave problema da criminalidade em nossas cidades e da falta de justiça social enquanto política efetiva de Estado.
De maneira geral, os hiatos legislativos têm produzido o agravamento tanto de problemas pontuais e específicos, em determinadas áreas e contextos sociais, quanto da governabilidade local e nacional, sobretudo quando, em temas mais agudos e de maior abrangência, os governos municipais e estaduais não conseguem solucionar algumas questões.
Um ponto “benéfico”, se assim podemos dizer, em relação a este caótico momento e em face da desastrada operação policial no Rio de Janeiro, é a retomada da tramitação – que esperamos alcance um desfecho final com a promulgação normativa possível e desejável – da Proposta de Emenda Constitucional n. 18/2025, que altera competências dos entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) no tocante a questões de segurança pública.
E, como, talvez, numa espécie de armistício político, o Governador fluminense e o Ministro da Justiça do Governo Federal se reuniram no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 29 de outubro, anunciando uma cooperação, com a criação de um Escritório Emergencial de Combate ao Crime Organizado, cuja coordenação conjunta compete aos secretários estadual e nacional de segurança pública, incluindo a cooperação entre forças federais e estadual, sobretudo em ações de inteligência.

No que concerne a nós, espíritas, como um todo, independentemente do grupo ou da tendência a que pertençam (laicos ou religiosos, ortodoxos ou heterodoxos, federados ou não-adesos) é a defesa da vida com qualidade e dignidade e o respeito a todos os semelhantes, sem a seletividade de conceitos para agradar as próprias convicções e, de modo marcante, entendendo, enfim, que todos os encarnados são seres com iguais direitos e deveres, irmãos entre si e que, até mesmo, os criminosos sejam tratados com dignidade, submetidos ao devido processo legal e ao Estado Democrático de Direito. Sem exceções!
No que compete a nós, que nos consideramos cidadãos brasileiros espíritas, laicos, livres pensadores, humanistas, kardecistas e progressistas, participemos mais ativamente das pautas e das ações e movimentos sociais, ao mesmo tempo em que esperamos que as autoridades públicas e, principalmente, os partidos políticos – que parecem estar disputando uma eleição diária e sem fim –, deixem de pensar, falar e atuar apenas e tão-somente com seus apetites eleitorais e de poder, para efetivamente permitirem que órgãos e instituições, que são constitucionais e permanentes, atuem nos grandes projetos sociais brasileiros, entre os quais se situa a segurança pública, para que ela, junto às demais ações de Estado possam buscar e alcançar a efetiva Justiça Social para Todos!
Referências:
EBC. Empresa Brasileira de Comunicação. (2025). “Agência GOV”. Lewandowski diz que pedidos do Rio foram atendidos e defende PEC da Segurança Pública. Disponível em: <https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202510/lewandowski-diz-que-pedidos-do-rio-foram-atendidos-e-defende-pec-da-seguranca-publica>. Acesso em 30. Out. 2025.
BBC. “BBC News Brasil”. (2025). Mensagens contra operação predominam no WhatsApp no Rio, mas apoio nacional foi maior. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3ep7v2xyl0o?>. Acesso em 30. Out. 2025.
Braun, J. “BBC News Brasil”. (2025). Mensagens contra operação predominam no WhatsApp no Rio, mas apoio nacional foi maior. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1j8n41317xo?>. Acesso em 30. Out. 2025.
Câmara dos Deputados. (2025). “PEC 18/2025”. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2500080>. Acesso em 30. Out. 2025.
Couto, C.; Figueiredo, C. (2025). “CNN Brasil”. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sudeste/rj/policia-atualiza-numero-de-mortos-em-megaoperacao-no-rio/>. Acesso em 29. Out. 2025.
Diniz, I; Alvim, M. (2025). Megaoperação contra Comando Vermelho no Rio: polícia confirma 121 mortos; moradores recolhem mais de 50 corpos. “CNN Brasil”. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/articles/clyg64e15j0o>. Acesso em 29. Out. 2025.
Mega, I. (2025). “CNN Brasil”. Após operação no Rio, PEC da Segurança pode ser acelerada na Câmara. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/blogs/isabel-mega/politica/apos-operacao-no-rio-pec-da-seguranca-pode-ser-acelerada-na-camara/>. Acesso em 30. Out. 2025.

 
		
Parabéns pelo artigo, camaradas. Utilizo a conhecida expressão: vivemos tempos sombrios, amigos. Concordo plenamente com a análise apresentada. O texto traduz, com lucidez e coragem, o grave desalinhamento entre o ideal espírita e as reações de muitos diante da violência institucionalizada.
O Espiritismo, que ensina a fraternidade como base da justiça, não pode silenciar diante de carnificinas travestidas de “ordem pública”. Defender a vida não é escolher quais vidas merecem compaixão, mas reconhecer em todas elas o mesmo princípio divino que nos irmana. Há muito a ser dito e feito; silenciar, não!