Por Marcelo Henrique
Kardec é o antídoto para o veneno da obscuridade, da prepotência, da aparente superioridade moral, da falta de dialógica e dialética.
É fato que a Humanidade transita por um caminho que contém, em si, a dualidade. Representativamente, diversos expoentes da literatura e das artes definiram os “dois lados” em luz e sombra, assim como os filósofos e os cientistas de todos os tempos lutaram contra as imprecisões de conceitos e teorias, numa luta abissal entre verdade e mentira.
Ainda que, sujeitos ao percurso da inexorável Lei do Progresso (inserta magistralmente na terceira parte de “O livro dos Espíritos”, como a sétima das Leis Universais), tenhamos a plena consciência de que tudo é mutável, a ambiência temporal em que estejamos vivendo nos permitirá a aproximação com o conhecimento (espiritual), ainda que sujeito aos vieses interpretativos dos seres humanos (os encarnados e os desencarnados, postos em permanente relação no conjunto dos mundos habitados).
Vez por outra, surgem “reveladores”. Há os que possuem gabarito para empreender missões importantes no contexto humano-espiritual e outros que são, em realidade, falsos ou pretensos reveladores. Estes últimos não são reconhecidos de forma natural por seus pares, justamente porque não possuem qualificação espiritual para serem identificados, a partir de suas ações e manifestações. Artificialmente, portanto, se dizem portadores de “revelações”, quase sempre eivadas de misticismo e do sobrenatural.
Curioso é que Allan Kardec se colocou sempre em oposição a esses dois limitados e desqualificados conceitos: o místico e o sobrenatural, afirmando que os conceitos espíritas seriam, ao contrário, lógico-racionais e pertencentes à natureza humana, considerando que o Espírito teria experiências na carne e fora dela, na condição material e imaterial, e que não haveria nada de proibido ou vedado em termos de conhecimento. As individualidades, a partir da marcha de progresso, estariam de posse das informações peculiares ao seu nível de entendimento, progressivamente.
Mas, os reveladores seguem por aí. Se pudéssemos fixar um marco, na “história do Espiritismo”, o primeiro expoente foi J.-B. Roustaing, contemporâneo de Kardec, e a sua discutível obra “Os quatro evangelhos”, que tinha como pretensioso subtítulo “A revelação da revelação”. Observe que o “fetiche” por algo “revelador” já estava lá mesmo na França do último quartel do século XIX. Eles retornam, vez por outra, na forma de médiuns que trazem “explicações surreais”, “discursos fantásticos” ou “respostas místicas” a situações do nosso cotidiano planetário.

E há, também, os que nada revelam – nem mediunicamente, nem intelectualmente – mas pretendem interpretar fatos ou documentos ao seu bel prazer, distanciando-se do rigor metodológico e dos critérios lógico-racionais de Rivail-Kardec. Veja-se, por exemplo, o culto exacerbado a manuscritos, cartas pessoais e outros elementos fáticos, “descobertos” na atualidade, os quais não apresentam NADA DE NOVO nem qualquer alteração filosófica em relação ao “corpo doutrinário” das obras efetivamente publicadas EM VIDA pelo professor francês, intituladas como OBRAS ESPÍRITAS.
Mas sempre há e haverá ilações. Pessoas que querem emprestar suas visões e opiniões parciais e comprometidas com vezos ideológicos e conceitos místicos, excessivamente religiosos e dogmáticos, aos apontamentos do homem que criou o Espiritismo em parceria com as Inteligências Invisíveis, ele sim revelando o que, até então, estava oculto, obscuro e parcialmente interpretado pelas vertentes religiosas judaico-cristãs.
Kardec é o antídoto para o veneno da obscuridade, da prepotência, da aparente superioridade moral, da falta de dialógica e dialética, oferecendo o remédio do livre pensamento que nada mais é do que o conceito (espírita) de fé raciocinada, que é aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da Humanidade, como o próprio Kardec (e nenhum outro, no seu tempo ou depois) enunciou.
É esta fé que raciocina, ou essa razão que crê com suficiente prova de verdade, que o Espiritismo proclama!
Assista o vídeo criando a partir do texto de Marcelo Henrique:
Texto: Marcelo Henrique
Locução: Carlos Scaramuzza
Vídeo: Luiz Gouveia