Editorial: Espiritismo Propositivo: quando a Boa Nova Kardecista andar nos campos.

Tempo de leitura: 4 minutos

Por Nelson Santos e Manoel Fernandes Neto

Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
Juntos outra vez

Beto Guedes

Propositivo é um termo atual, muito usado no ambiente corporativo, grupos afins e relações sociais. Surge para diferenciar a arrogância da “crítica pela crítica”; distinguir a ideia vazia pela ideia com o valor das reflexões. O significado de propositivo, portanto, é o de trazer soluções mas não desprezar a escuta de opiniões discordantes. Construir e criar potência, mas não nutrir a falsas análises. Agir e apresentar alternativas do pensamento livre, mas não se fixar nos cumes de conflitantes enganos. A reflexão propositiva considera sempre o coletivo, nunca o individual. 

O Espiritismo em si é propositivo, mas também acolhedor nos seus aprofundamentos intelectuais. O Coletivo ECK procura reunir, engajar, criar e inovar de forma eficaz o estar e agir no mundo, independente do tamanho —  e do decantado clichê “visão espírita”. Mas também explorar o transcendente, sem sensacionalismo: Espiritismo não é sobrenatural ou magia. 

O Espiritismo Propositivo, portanto, tem sempre um novo ar a ser respirado, explorado e alcançado, com Kardec como mestre e parceiro inspirador.

Em cada edição da Revista Harmonia, o Coletivo ECK busca esses novos ares e horizontes, além do que já foi dito. O saber, além do acreditar. O caminhar com firmeza e destemor proclama o que queremos como Ser: um exercício constante de livre pensar, sem falsidades, sem veleidades, sem salvacionistas, sem adulterações da verdade. Discordamos, concordamos e acrescentamos, com singeleza e generosidade, nunca com covardia ou discurso de autoridade.

Eis que surge a edição de setembro, e a boa nova kardecista continua florescendo de variadas formas, nos canteiros e jardins em cada um dos textos da edição:

Nossa caminhada pelos campos floridos começa com uma constatação: poucos espíritas compreendem “O Evangelho segundo o Espiritismo”. O tem como uma fundamentação religiosa, engessada, dogmática. Não compreendem a exemplificação dada pelos Espíritos Luminares à Kardec, na questão 625. Jesus, Yeshua ou Magrão, como o chamamos, é um dos modelos possíveis — decerto o mais próximo, entendemos, da nossa ocidentalidade, mas certamente não o único! — em nosso mundo a ser seguido, o ético e o moral. Ou seja, a dicção do nosso Evangelho (à luz do Espiritismo) é puramente pedagógica: não evangelizadora, muito menos catequética, não busca conduzir, mas, apresentar o caminho a cada geração que busque conhecimento e propiciando as livres escolhas pessoais. A partir dessas reflexões, Marcelo Henrique, brilhantemente, nos presenteia o artigo “Considerandos sobre a Educação Espírita”.

 A edição prossegue pelo progresso do ser interexistencial, em uma perspectiva espiritista e integral, perante a circunvizinhança, a sociedade e o mundo, permitindo a compreensão ética e moral diante da realidade social. Proporciona, através das múltiplas existências, a solidificação possível na forma do caminho para as soluções das mazelas humanas. Esse é o cerne do texto de Jon Aizpúrua, em espanhol e português, “Mude a si mesmo, se você deseja que o mundo mude: a Dialética do Moral e do Social”.

 Vida e morte fazem parte da natureza! Para os estóicos a morte não deve ser temida. Ela é parte do ciclo universal: absolutamente tudo tem um final. Para a grande maioria dos religiosos, a morte é temida mas, também representa uma passagem, para um céu ou um inferno que os atos vivenciados, bons ou maus, nos direcionaram. Para os espiritistas o conceito de morte é além: é prosseguimento da vida, numa eterna espiral reencarnatória, colocando-nos sempre à prova no aprendizado, sempre progressivo, conforme exposto, por Wilson Custódio, com excelência, em “A Justiça que Não se Compra”.

 Nas relvas do desabrochar da estação, o texto “Do Regulamento à Inclusão: o Caminho Indicado por Kardec”, de João Afonso G. Filho, mostra que a fraternidade relativista frequentemente adotada pelo meio espírita afasta, sistematicamente, a sociedade de seu seio, de seu locus natural. Do contrário, a genuína proposta espiritista é a da permanência do ser “em a” sociedade, na manutenção da sua essência universalista derivada do (seu) princípio de justiça, amor e caridade. Afinal, o Espiritismo não é, meramente, consolador (embora claramente o seja), mas, esclarecedor, educador! É nessa ambiência social que ele deve se resignificar.

 Mas novas estações convocam leituras críticas. Assim, Sidnei Batista, por sua vez, em “Ampliando Kardec: uma breve leitura sobre “O Céu e o Inferno”, faz um convite à digressão sobre os estudos espíritas, provocando o pensar, para além das máquinas de crer — um molde engessado e caquético que as instituições fomentam, derivadas da insistência no “pecado” das dívidas pretéritas — direcionado, assim, de modo preciso e natural (natureza espiritual), à análise crítica dos atos, dos crimes e dos efeitos (outrora “castigos”) decorrentes das decisões equivocadas de cada um.

 Espinhos também fazem parte dos canteiros. Como os radicalismos, sejam de esquerda ou direita, que tornam míopes os adeptos, resultando em luta pelo poder, dominância e subserviência, sem lastro e critério. Nesse ponto, o que o Espiritismo, uma doutrina filosófica e cientificista, tem a nos ensinar? Nessa linha, o artigo de Wilson Garcia, “O poder contraintuitivo da ferradura: por que os extremos políticos se parecem mais do que gostamos de admitir provoca a reflexão.

 Concluindo a edição, faz-se uma análise do princípio espiritual que está presente nas digressões filosóficas desde os pensadores gregos, atravessando os séculos, finalmente sinterizado com o advento do Espiritismo.  Leonardo Paixão discorre sobre as relações inter existenciais, suas benesses e seus problemas, assim como os psiquismos e suas influências, no texto “Existe no Homem um Princípio Espiritual?: Uma Reflexão à Luz da Obra “A Loucura sob Novo Prisma”, de Bezerra de Menezes”.

Canta Beto Guedes um alvorecer esperançoso, um aprendizado constante, através da compreensão da vida e de sua assimilação pelo ser espiritual, encarnado ou não, a cada momento reinventando-se. Nos bosques da vida, através de eras, isto é o que nos faz melhores, queremos crer.

Ou como diz a canção: 

Já choramos muito

Muitos se perderam no caminho

Mesmo assim não custa inventar

Uma nova canção

Que venha trazer

Sol de primavera

Abre as janelas do meu peito

A lição sabemos de cor

Só nos resta aprender

Aproveite cada momento dessa boa nova. Boa leitura

 

Imagem de G.C. por Pixabay


Setembro de 2025

ACESSE: Harmonia – Setembro de 2025

 

 

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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3 thoughts on “Editorial: Espiritismo Propositivo: quando a Boa Nova Kardecista andar nos campos.

  1. Muito texto para ser lido um de cada vez como se nos tivéssemos a preparar para um exame de conhecimentos Universais. Temos matéria muito boa para aprender. Obrigada pela grande quantidade de trabalho de informação.

  2. Neste texto nossos queridos Nelson e Maneco trazem um pot pourri de artigos de diferentes lavras autorais, apresentando o Espiritismo Propositivo. Sim, propositivo de “propósitos” e com este adjetivo propõe o pensamento a “voar nas asas do vento da Liberdade” imaginado por Verdi no Coro Va Pensiero. De fato, o Saber transcende o Crer, “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” já dizia o grande Vandré. Aquele que crê terceiriza “sua fé e sua salvação” aos cuidados de pastores e líderes religiosos e/ou políticos, a maioria lobos vestidos de pele de ovelha. Aquele que sabe se torna auto suficiente, se conduz por si próprio, aí que entra o ECK não como controlador, mas participativo de um dar a mão ao outro.

  3. Iniciamos a primavera com chuva , vento e caos , porém, sabemos que o sol há de raiar mais uma vez e com ele a esperança. Choramos, nos perdemos e buscamos sempre nos encontrar , com as janelas abertas do coração, do peito.