A Política Espírita, por Marcelo Henrique (Português e Espanhol)

Tempo de leitura: 9 minutos

Marcelo Henrique

***

As discussões sobre Política Governamental e Social, assim, interessam de perto aos espíritas, considerada a definição de tal atuação como promovedora do bem comum e condutora das transformações coletivas. Os grandes temas políticos da atualidade, devem contar com a efetiva participação dos espíritas, nos foros de discussão e na fiscalização de sua implementação pelos governos.

***

Sim, o título deste artigo é provocativo e instigante. Existe Política no Espiritismo? Ou, então, existe uma Política Espírita? É sobre isso que iremos conversar, eu e você que nos lê.

Inicialmente é preciso buscar o conceito original aristotélico para Política. Diz o eminente filósofo grego: “ciência que objetiva a felicidade humana, dividindo-se em ética e na política propriamente dita”. Na definição de Aristóteles, ela se acha essencialmente ligada à moral, pois o Estado tem como fim precípuo e último a virtude, que simboliza tanto a formação moral dos cidadãos como os meios indispensáveis a isso.

E para que serve a Política? Para a organização da Sociedade (humana, terrena, planetária), logicamente. A Política organiza, em termos democráticos contemporâneos, a atuação de poderes públicos, disciplinando a atividade daqueles que ocupam cargos/funções públicas visando o “bem comum”.

No conteúdo considerado fundamental do Espiritismo – em especial em “O livro dos Espíritos” – encontramos uma importante diretriz estabelecida por Kardec, ouvidas as Inteligências Invisíveis. O objetivo existencial do ser humano, considerada a encarnação (e o conjunto das existências físicas) é o seu próprio aperfeiçoamento. Para progredir individualmente, o Espírito estuda, aprende, trabalha, angaria conhecimentos, realiza experiências, fracassa e tem sucesso, chora e ri, numa sucessão de atos sem fim. E, ao progredir no contexto pessoal, somado aos outros iguais (Espíritos encarnados) propõe transformações no tecido social, as sociedades em geral que, igualmente, progridem. Assim é e tem sido desde tempos imemoriais, a partir das primeiras coletividades, ainda no estágio primitivo, de humanos nômades e de inteligência rudimentar.

Em diversos questionamentos e considerando as pontuais respostas que Kardec recebeu, como os textos de sua lavra que explicam e aprofundam questões à luz do Espiritismo, encontramos a proposta de ação social ou ação política dos indivíduos em relação aos núcleos sociais de que participam. Da família ao planeta, passando por diversas instâncias, os indivíduos são convidados a colaborar na construção de melhores sociedades e na consolidação de uma Humanidade melhorada (aquilo que, para os nossos atuais padrões espirituais configuraria, a princípio, o estágio de Mundo Regenerado – como figura no Capítulo III, de “O evangelho segundo o Espiritismo”).

Quando Kardec trata da marcha do Progresso (“O livro dos Espíritos”, itens 779-785), depreende-se a necessidade da ação exterior dos indivíduos no seio das coletividades, sobretudo para conceber leis melhores, de que resultem benefícios a toda a sociedade, e não apenas para poucos. Leis humanas más, incompatíveis com o progresso – e também governantes maus – criticados desde Aristóteles precisam ser substituídas por aquelas que estejam harmonizadas com a Justiça Divina, como comenta Kardec após o item 783.

Esta força não pode ser oposta, apesar de ser repetidamente retardada, como se vê, aliás, de tempos em tempos e em diversos países, onde os homens que detêm o poder temporal, sociopolítico, utilizam-se de seus cargos para impor injustiças, perdas e sofrimentos aos agrupamentos coletivos, alcançando, não raro, um grande quantitativo de indivíduos prejudicados, até que sejam as leis injustas reformuladas e os governantes despóticos e corruptos afastados e substituídos por outros, eticamente superiores.

Também devemos lembrar que, Jean-Jacques Rousseau, importante filósofo, teórico político, escritor e compositor suíço, autor de “O Contrato Social” e tido como um dos influenciadores da Revolução Francesa, se fez presente na Obra Espírita. Em “O livro dos Médiuns” (Cap. XXXI, Item 3 – “Dissertações Espíritas: Sobre o Espiritismo”), Kardec reproduz uma curta mas relevantíssima mensagem em que o pensador atribui à Filosofia Espírita um importante papel em relação ao futuro

Disse ele: “o Espiritismo é um estudo todo filosófico das causas secretas dos movimentos interiores da alma, até agora nada ou pouco definidos. Explica, mais do que desvenda, horizontes novos. […] Tocam-me ao vivo as verdades que por esse meio são postas em foco. Digo intencionalmente — meio — porquanto, a meu ver, o Espiritismo é uma alavanca que afasta as barreiras da cegueira. Está toda por criar-se a preocupação das questões morais. Discute-se a política, que agita os interesses gerais; discutem-se os interesses particulares; o ataque ou a defesa das personalidades apaixonam; os sistemas têm seus partidários e seus detratores. Entretanto, as verdades morais […] ficam abandonadas sob o pó que os séculos hão acumulado. […] Ressuscitando o espiritualismo, o Espiritismo restituirá à sociedade o surto, que a uns dará a dignidade interior, a outros a resignação, a todos a necessidade de se elevarem para o Ente supremo” (grifamos). 

Assim, perguntamos: Como restituir aos indivíduos e à sociedade a dignidade interior, a resignação e a elevação a Deus, sem agir politicamente?

Impossível! O agir político simboliza o engajamento nas atividades político-sociais, em entes representativos, desde as pequenas comunas (bairros) até o país, sem falar de organismos e movimentos internacionais. No caso do Brasil e de outros países da atualidade, os textos constitucionais conceberam conselhos representativos, órgãos colegiados da sociedade civil, responsáveis por definir metas, estratégias e ações em variados campos da vida social: educação, obras, saúde, saneamento, segurança, transporte, entre outros. Também figuram conselhos comunitários e associações de bairros e cidades, em que os indivíduos podem livremente participar e influir nos processos decisórios.

Eis, aí, a chamada Política Espírita – que é a atuação dos espíritas na sociedade, participando de ações políticas. E, eventualmente, além do direito ao voto, a perspectiva de serem candidatos a cargos políticos, nos poderes executivo e legislativo, para estar no “front” político-social, administrando as coletividades sociais e aprovando normas legais mais apropriadas.

As discussões sobre Política Governamental e Social, assim, interessam de perto aos espíritas, considerada a definição de tal atuação como promovedora do bem comum e condutora das transformações coletivas. Os grandes temas políticos da atualidade, portanto, como aborto, acesso à educação de qualidade, alcance total ao saneamento básico, aposentadoria, combate à violência e segurança pública, promoção/garantia do emprego e combate ao desemprego, promoção da saúde e erradicação de doenças, dentre outros, devem contar com a efetiva participação dos espíritas, nos foros de discussão e na fiscalização de sua implementação pelos governos.

Distante disto é a ação pessoal, de interesses próprios, voltada a patrocinar determinados candidatos ou partidos políticos ou reprovar outros, adversários dos primeiros, que deve ser evitada/combatida. O ambiente de um grupo ou instituição espírita que propiciar este tipo de embate, estará desconsiderando a pontual advertência de Kardec quanto a não utilizar os espaços espíritas para discutir política partidária e outros assuntos “irritantes”, porque derivados das meras paixões humanas (“Revue Spirite”, Fevereiro/1862, “Resposta à mensagem de ano novo dos Espiritas lioneses”).

Por fim, vale repisar a notória recomendação de Kardec aos espíritas, na esteira de seu próprio progresso: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações” (“O evangelho segundo o Espiritismo”, Cap. XVII, Item 4). Indivíduos moralmente transformados e tendo dominado suas más inclinações constroem e mantêm sociedades virtuosas e harmonizadas.

Nota do ECK:

(*) Artigo originalmente publicado na revista “Evolución”, edição n. 22, de abril de 2025, órgão de comunicação social do Movimento de Cultura Espírita – CIMA, de Caracas (Venezuela).

 


La política espírita (*)

Marcelo Henrique

***

Así, el debate en torno a la política gubernamental y social atañe a los espíritas, al considerar la definición de dicha actuación como promotora del bien común y conductora de las transformaciones colectivas. Los grandes temas políticos de la actualidad han de contar con la participación efectiva de los espíritas en los foros y en la fiscalización de su implementación por los gobiernos. 

***

Efectivamente, el título de este artículo es provocador e instigador. ¿Existe la política en el espiritismo? En todo caso, existe una política espírita? Conversaremos al respecto usted y yo.

En principio, hay que hurgar en el concepto original aristotélico de la política. Dijo el eminente filósofo griego: “Es una ciencia cuyo objetivo es la felicidad humana; se divide en ética y en política propiamente dicha”. En la definición de Aristóteles, se encuentra esencialmente ligada a la moral, ya que el Estado tiene como fin prioritario y último la virtud, que simboliza tanto la formación moral del ciudadano como los medios indispensables para ello.

¿Y para qué sirve la política? Para la organización de la sociedad (humana, terrena, planetaria), lógicamente. La política organiza, en términos democráticos contemporáneos, la actuación de los poderes públicos, al disciplinar la actividad de quienes ocupan cargos y desempeñan funciones públicas en aras del bien común.

En el contenido considerado fundamental del espiritismo (en especial en El libro de los espíritus) encontramos una directriz importante, establecida por Allan Kardec tras haber escuchado a las inteligencias invisibles. El objetivo existencial del ser humano, considerada la encarnación (así como el conjunto de existencias físicas) es su propio perfeccionamiento. Para progresar individualmente, el espíritu estudia, aprende, trabaja, acumula conocimientos, realiza experiencias, fracasa y tiene éxito, llora y ríe, en una sucesión de actos sin fin. Así, al avanzar en el contexto personal, junto con sus pares (espíritus encarnados), propone transformaciones en el tejido social, en la sociedad en general, que a su vez progresa. Así es y ha sido desde tiempos inmemoriales, a partir de las primeras colectividades, ya en el estado primitivo, de humanos nómadas y de inteligencia rudimentaria.

En diversas preguntas y considerando las respuestas puntuales que obtuvo Kardec, como los textos de su obra, que explican y profundizan en cuestiones a la luz del espiritismo, encontramos la propuesta de acción social o acción política del individuo, en relación con el núcleo social del que participa. De la familia al planeta, pasando por diversas instancias, el individuo es conminado a colaborar en la construcción de una mejor sociedad y en la consolidación de una humanidad superior (aquello que, para nuestros actuales patrones espirituales, configuraría el principio, el estado de mundo regenerado, tal cual figura en el Capítulo III de El Evangelio según el espiritismo).

Cuando Kardec aborda la marcha del progreso (El libro de los espíritus, puntos 779-785), se desprende la necesidad de la acción externa del individuo en el seno de las colectividades, sobre todo para concebir mejores leyes, en pro de toda la sociedad y no de unos cuantos. Las leyes humanas defectuosas, incompatibles con el progreso (así como los malos gobernantes) y criticadas desde Aristóteles, han de sustituirse con aquellas que estén en armonía con la justicia divina, como lo comenta Kardec en el punto 783.

No hay manera de oponerse a esta fuerza, aunque se retarden reiteradamente. Esto se ve, por lo demás, de tiempo en tiempo y en diversos países, donde quienes detentan el poder temporal y sociopolítico se valen de sus cargos para cometer injusticias, ocasionar pérdidas e infligir sufrimiento a gran cantidad de personas. Finalmente, las leyes injustas son reformuladas y los gobernantes déspotas y corruptos se deponen y sustituyen por otros, éticamente superiores. 

También debemos recordar que Jean-Jacques Rousseau, importante filósofo, teórico político, escritor y compositor suizo, el autor de El contrato social y visto como una de las personas que influyeron en la Revolución Francesa, se hace presente en la obra espírita. En El libro de los médiums (Capítulo XXXI, punto 3 –  Disertaciones espíritas. Sobre el espiritismo), Kardec reproduce un mensaje corto, pero muy relevante, donde el pensador atribuye a la filosofía espírita un papel importante de cara al futuro.

Afirma Rousseau: “Considero que el espiritismo es un estudio absolutamente filosófico de las causas secretas, de los movimientos interiores del alma, que poco o nada han sido definidos hasta el momento. Más que develar nuevos horizontes, el espiritismo aporta explicaciones. La reencarnación, al igual que las pruebas que  se sufren antes de alcanzar la meta suprema, no son revelaciones, sino una importante confirmación. Estoy profundamente conmovido por las verdades que ese medio saca a la luz. Digo medio intencionalmente, porque, en mi opinión, el espiritismo es una palanca que derriba las barreras de la ceguera. La preocupación relativa a las cuestiones morales todavía no ha comenzado. Se debate la política, que agita los intereses generales, así como se debaten los intereses particulares. El ataque y la defensa de las personalidades apasionan. Los sistemas tienen sus partidarios y sus detractores. No obstante, las verdades morales, que son el pan del alma, el pan de vida, permanecen abandonadas bajo el polvo que los siglos han acumulado. Desde el punto de vista de la multitud, todos los perfeccionamientos son útiles, excepto el del alma. […] Al resucitar el espiritualismo, el espiritismo dará a la sociedad el impulso que despierte en unos la dignidad interior; en otros la resignación, y en todos la necesidad de elevarse hacia el Ser supremo, olvidado e ignorado por sus ingratas criaturas”. (Negritas nuestras).

En tal sentido, nos preguntamos: ¿Cómo restituir al individuo y a la sociedad la dignidad interior, la resignación y la elevación hacia Dios, sin actuar políticamente?

¡Imposible! El accionar político simboliza el engranaje en las actividades sociopolíticas, en los entes representativos, desde las pequeñas comunas (barrios) hasta el país, sin hablar de los organismos y movimientos internacionales. En el caso de Brasil, y de otros países, los textos constitucionales concibieron consejos representativos, órganos colegiados de la sociedad civil, a cargo de definir metas, estrategias y acciones en variados ámbitos de la vida social: educación, obras, salud, sanidad, seguridad y transporte, entre otros. Asimismo, figuran los consejos comunitarios y las asociaciones de barrios y ciudades, donde los individuos participan libremente e influyen en la toma de decisiones.

He aquí la llamada política espírita: la actuación de los espíritas en la sociedad y su participación en los actos políticos. Eventualmente, aparte del derecho al voto, está la perspectiva de optar a un cargo público, en los poderes ejecutivo y legislativo, para estar a la vanguarda sociopolítica, administrar las colectividades sociales y aprobar normas legales más apropiadas.

Así, el debate en torno a la política gubernamental y social atañe a los espíritas, al considerar la definición de dicha actuación como promotora del bien común y conductora de las transformaciones colectivas. En consecuencia, los grandes temas políticos de la actualidad (aborto, acceso a la educación de calidad, alcance total a la sanidad básica, jubilación, combate a la violencia y seguridad ciudadana, promoción y garantía de empleo y combate al desempleo, promoción de la salud y erradicación de enfermedades, entre otros) han de contar con la participación efectiva de los espíritas en los foros y en la fiscalización de su implementación por los gobiernos.

Lejos de esto se encuentra la acción personal, de los intereses propios, volcada a patrocinar a determinados candidatos o partidos políticos, o reprobar a otros, adversarios de los primeros, la cual debería evitarse. El ambiente de un grupo o institución espírita que propicie este tipo de embate estará desestimando la certera advertencia de Kardec, en cuanto a utilizar los espacios espíritas para debatir sobre política partidista y otros asuntos irritantes, ya que se derivan de las meras pasiones humanas. (Revue Spirite, febrero de 1862, Respuesta al mensaje de año nuevo de los espíritas lioneses).

Finalmente, cabe analizar la notoria recomendación de Kardec a los espíritas, en la estela de su propio progreso: “Se reconoce al verdadero espírita por su transformación moral y por los esfuerzos que emplea para domar sus inclinaciones malas”. (El Evangelio según el espiritismo. Capítulo XVII, punto 4). Las personas transformadas moralmente y que han dominado sus malas inclinaciones construyen y mantienen sociedades virtuosas y armoniosas.

Nota do ECK:

(*) Tradução para o espanhol de Conchita Delado Rivas, integrante do Movimento de Cultura Espírita CIMA – Caracas (Venezuela).

Imagem de Engin Akyurt por Pixabay

Written by 

Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.