Uma imensa derrota do Espírito

Tempo de leitura: 4 minutos

Editorial comkardec.com.br

“Insulto não é argumento. Ofensa não é coragem. A incivilidade é uma derrota do Espírito”, Ministro Luís Roberto Barroso, Membro do Supremo Tribunal Federal e ex-Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (pronunciamento em 9 de setembro de 2021).

***

Em vídeo que circula amplamente nas redes sociais, o Ministro Barroso, entre várias declarações contundentes, brinda-nos com as frases acima, sequenciais. O destinatário deste pronunciamento não é, ninguém menos, que o atual Chefe do Poder Executivo do Brasil. Não é necessário dizer o seu nome de batismo nem o seu nome político. Todos o sabem.

O conteúdo nos remete a um triste período de nossa história. Talvez o pior, se tivermos os “olhos de ver” para o conteúdo deste governo de três anos e sete meses e, um pouco mais, retrocedendo ao ano eleitoral (2018). Se é fato notório que o nosso país – que alguns espíritas TEIMAM em dar-lhe o epíteto infeliz de “coração do mundo e pátria do evangelho”, baseados numa obra DISCUTÍVEL, em termos de autoria, IMPRÓPRIA em termos de conteúdo espiritual e SUSPEITA do ponto de vista de sua edição e publicação final – já teve momentos deploráveis em termos de organização político-administrativa e gestão de Estado, com graves crises institucionais, com desemprego, fome e distintas iniquidades, assim como violência generalizada e censura e perseguição ideológica, nada se compara aos dias da atualidade.

Não! E não há argumentos capazes de vicejar. Nenhum “amor à pátria” – curiosamente, para você, “amigo espírita”, um conceito e um sentimento que a Doutrina dos Espíritos rechaça, posto que inexiste pátria outra que não seja a condição de ESPIRITUALIDADE e que as “bandeiras”, as “cores”, os “símbolos” e tudo o mais não prosperam diante da ideia de isonomia entre os Espíritos e da de fraternidade (irmandade) entre TODOS – justifica a sucessão de impropérios, de bravatas e de atitudes, sejam as perpetradas pelo conglomerado (executivo-legislativo) que administra este país, seja pela (então suposta) maioria que elegeu o atual mandatário – ainda que, em termos nominais, jamais tivesse representado qualquer maioria.

O sentimento de ódio remanesce. E, dentro dele, toda e qualquer motivação para aniquilamento dos diferentes, dos que não nutrem as mesmas paixões, e não concordam – nunca concordaram! – com os métodos de assunção e manutenção do poder do dístico (ora, ainda, estampado na propaganda oficial governamental: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”).

Para o espírita sensato, nem um nem outro devem sobrevir ou se manter. Não! O Brasil não está acima de tudo. Nenhuma “cor de pátria”, nenhuma alusão (enganosa) ao conjunto social (representado na palavra “Brasil”) subsiste a um conjunto de ações em que a “pátria” figura como uma utopia distante. Nenhuma divindade – ainda que o nome Deus nos pareça ser unanimidade entre as religiões monoteístas – deve estar ressaltada em termos de sociedade, tendo em vista que não há – e nem pode, e nem precisa haver – uma única concepção de religiosidade, posto que a pluralidade e o respeito, em termos de convivência, sejam muito melhores. A minha fé não é a sua fé, nem a do outro. E mesmo que, em sendo um texto dirigido aos espíritas, nem esses, os espíritas, têm a mesma fé ou a manifestam de idêntico modo. Nem é necessário!

Macunaíma íntimo

Portanto, não queremos, nós espíritas KARDECISTAS, que Deus esteja acima (mas, sim, ao nosso lado, dentro e fora, por toda a parte), uma vez que a LEI DE ADORAÇÃO – bem expressa e conceituada na terceira parte de “O livro dos Espíritos” não impõe uma subserviência (cega e apática) dos “fiéis” (crentes) a este Deus.

De outro lado, o “Deus” avocado, não parece ser, nem de longe, qualquer entidade superior, já que nele se justifica um conjunto interminável de atrocidades, que se repetem em série e que se reverberam em outros delitos, sejam os de natureza “lesa-pátria” seja os (mais recentes) de desrespeito a todas as liberdades e a todos os direitos, e que são materializados na “estirpe” de grande parte daqueles que fazem tremular suas bandeiras, nas mãos, em eventos públicos, ou se vestem de “verde e amarelo” para se contrapor a uma ameaça que inexistiu, inexiste e inexistirá, um Macunaíma íntimo, um fantasma que está na sua imaginação e dela não passa, seja rubro, roxo, negro, branco, amarelo, azul, verde, cinza ou multicolorido.

Que pátria é essa em que a violência é a diretriz e que a arma é o dístico e o logotipo favorito? Por vezes me imagino lendo livros de história geral, para verificar os momentos em que dadas nações se consideraram como o “povo eleito”, a “nação consagrada” ou a “terra prometida”. Grécia, Roma, França, Alemanha e… Brasil? Não, não mesmo! Não precisamos – até pelo caráter cosmopolita, fincado sobre bases de acolhimento e de generosidade, de hospitalidade e alegria, de amizade e amor, sermos SUPERIORES em nada, em relação aos demais povos e países.

Estamos do lado oposto

Nosso Brasil não precisa de qualquer proeminência – tecnológica, econômica, industrial, administrativa, gerencial, educacional, social. Jamais ocuparemos qualquer posição de destaque e de colonialismo em relação a qualquer etnia e, tampouco, exerceremos nenhum domínio sobre quem quer que seja.

Repudiamos, assim, e continuaremos repudiando qualquer tentativa divisionista, sob qualquer pretexto ou argumento, em termos de distanciamento entre os iguais, isto é, os cidadãos brasileiros – ainda que respeitemos o direito de escolha política e o exercício do sufrágio, nas próximas eleições de outubro, como nas anteriores e nas vindouras.

Mas nenhum argumento de respeito a ideologias ou preferências político-eleitorais poderá ser embasamento para a perda da CIVILIDADE. E nenhuma justificativa poderá ser usada para a defesa de um candidato – que ocupa a posição de Chefe de Estado e de Governo no Sistema Brasileiro – para atacar instituições, sistemas e a ordem pública.

Nós, Espíritas, do “Espiritismo COM Kardec” estaremos do lado oposto de quem, como sinaliza e reforça o Ministro Barroso, esteja de mão com armas injustificáveis, em qualquer parte do mundo civilizado: “Insulto não é argumento. Ofensa não é coragem. A incivilidade é uma derrota do Espírito”.

Nem antes, nem agora, nem depois!

Juntos, venceremos qualquer ameaça e, principalmente, aquelas travestidas em “amor a Deus” ou “amor à Pátria”. E estaremos distantes da imensa derrota do Espírito.

Nota:

As frases do Ministro Barroso, no pronunciamento completo do mesmo, ainda na condição de Presidente do TSE, podem ser visualizadas em:

www.youtube.com/watch?v=N6oEEc0SQUM 

Imagem: Pixabay

Administrador site ECK

Written by 

Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

2 thoughts on “Uma imensa derrota do Espírito

  1. Parabéns ao autor . Sempre me questionei do porquê do “Brasil ser a Pátria do Evangelho” tal como ouvir dizer Jesus é o Filho de Deus…tal como todo o mundo é filho de Deus e Jesus um irmão nosso..também todos os países podem ser Pátrias do Evangelho..ninguém nem país nem gente está acima ..mas em pé de igualdade perante o Criador . Quanta lucidez neste texto. Obrigada por partilhá-lo connosco.

  2. Excelente texto, com o qual compactuo por expressar minha visão e entendimento sobre o momento atual, assim como acerca da obra mencionada. Grato!!

Deixe uma resposta para Vicente de Paulo Estevez Vieira Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.