João G. Afonso Filho
***
Entendendo a reencarnação, somos incentivados a valorizar cada momento e as nossas tarefas diárias, percebendo que, ao realizá-las com dedicação, estamos cumprindo uma missão que favorece nossa evolução e a do mundo ao nosso redor.
***
Quando se estuda a Reencarnação de forma mais abrangente e de acordo com os postulados genuinamente “espíritas”, a ideia formada no movimento espírita, especialmente no Brasil, fica totalmente desconexa, pois nela existem conotações equivocadas, muitas das quais foram articuladas para dar um teor meramente religioso. O caráter religioso não faz parte deste entendimento.
Com isso, o interessado em participar de uma casa espírita, sem o devido conteúdo doutrinário espírita elaborado adequadamente, se perde, uma vez que encontrará o mesmo vício religioso, ou seja, a religião como fuga, o que, consequentemente, o impede de ter autonomia diante das adversidades da vida.
Quando se aborda a Reencarnação, a ideia costuma ser muito ortodoxa, muitas vezes baseada em explicações “estapafúrdias”, como reencarnar para pagar pecados ou débitos anteriores, ou a lei de Talião: olho por olho, dente por dente, que antecede a Bíblia. Nesse cipoal de desinformação, o interessado se perde ainda mais, pois não encontra respostas satisfatórias para suas dúvidas sobre fé ou orientação.
Não abordarei aqui a questão 132, de “O livro dos Espíritos”, que explica a finalidade da encarnação dos Espíritos, mas sim aquela que me marcou profundamente desde a juventude. Na discussão com um grupo de jovens daquela época, a Reencarnação ganhou novos e mais profundos parâmetros.
Vejamos a estrutura da magistral pergunta de Allan Kardec e a postura esclarecedora da resposta dada pelas Inteligências Invisíveis, detalhadamente:
“Em que consiste a missão dos Espíritos encarnados?” (item 573, de “O livro dos Espíritos”).
E a resposta tem três núcleos:
- a) “Instruir os homens, ajudá-los a avançar, melhorar as suas instituições por meios diretos e materiais”;
- b) “as missões são mais ou menos gerais e importantes. Aquele que cultiva a terra cumpre uma missão, assim como aquele que governa ou aquele que instrui”; e,
- c) “Tudo se encadeia na Natureza; ao mesmo tempo que o Espírito se depura pela encarnação, também concorre, por essa forma, para o cumprimento dos desígnios da Providência. Cada um tem a sua missão neste mundo porque cada um pode ser útil em algum sentido”.
Dessa forma, o porquê de reencarnar, presente nesta pergunta e resposta, oferece uma visão mais clara, ética e profunda sobre o tema. Ela nos convida a refletir sobre o verdadeiro propósito da nossa existência aqui na Terra.
Muitas vezes, pensamos que nossas ações precisam ser grandiosas ou específicas para terem significado, mas o texto nos mostra que cada atividade, por mais simples que pareça, tem uma missão importante no grande plano da Providência. Seja cultivando a terra, governando ou ensinando, todos contribuímos de alguma forma para o progresso espiritual e social.
Essa compreensão, em particular, me incentivou e continua a incentivar a valorizar cada momento e as nossas tarefas diárias, percebendo que, ao realizá-las com dedicação, estamos cumprindo uma missão que favorece nossa evolução e a do mundo ao nosso redor.
Acredito que, dessa forma, a proposta da Lei de Reencarnação nos leva a refletir sobre nosso papel num mundo tão desigual, tão desumano (mas, é claro que existe Humanidade ainda!).
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
Edição: Maio de 2025
Editorial: O Essencial Kardec, por Manoel Fernandes Neto e Nelson Esteves dos Santos
A universalidade do Espiritismo frente às abordagens decoloniais, por Marco Milani
Kardec: professor, assim como Antonieta de Barros, por Viviane Pádua
É preciso retomar algumas práticas esquecidas, por Cláudio Bueno da Silva
A IA adiou a morte? Limites da ciência na perspectiva espírita, por Wilson Custódio Filho