Deixar de ser espírita, por Cláudio Bueno da Silva

Tempo de leitura: 3 minutos

Cláudio Bueno da Silva

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O abandono de alguém em relação às ideias espíritas parte da má ou da nenhuma formação doutrinária, e também da incapacidade de perceber o alcance e profundidade da Doutrina.

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Rio quando ouço alguém dizer que deixou de ser espírita. A doutrina espírita contribui fundamentalmente para a organização íntima do ser humano. Quem estuda e vive os seus conceitos não a descarta jamais. Aos poucos, as convicções vão sendo construídas com o auxílio do raciocínio, da lógica e do bom senso e, depois das dúvidas e questionamentos iniciais, o estudioso do Espiritismo vê depositado o conhecimento na própria consciência. Tornado espírita, não cederá ao vai e vem das opiniões e modismos culturais e sociais. 

Diz o prof. Herculano Pires: 

“Não basta acreditar na sobrevivência e participar de sessões ou ouvir palestras”; “O espírita não pode crer pela crença, mas deve crer pela compreensão”; “O espírita tem de conhecer aquilo em que crê, e saber por que crê”; e, finalmente, “Kardec assinalou que se conhece o verdadeiro espírita pela sua transformação moral” [1].

Herculano segue traçando um perfil que pode explicar perfeitamente a decisão dos que resolvem deixar de ser espíritas: 

“Essas pessoas não se dirigem ao Espiritismo na procura de uma visão mais ampla da vida, de melhor compreensão, de maior equilíbrio psíquico. Desejam, pelo contrário, obter benefícios imediatos: cura, solução de problemas financeiros ou amorosos, arranjo da vida. Pretendem fazer do Espiritismo um meio de conquista de vantagens pessoais” [1].

Estes não o fazem por maldade, mas por aquilo que ouvem dizer que seja o Espiritismo. O insatisfeito abandona a ideia espírita, principalmente quando percebe que ser espírita “dá muito trabalho”. Isto porque tem-se que mexer com a própria natureza íntima, mudar hábitos, opiniões e conceitos cristalizados.

Essas reflexões mostram que o abandono de alguém em relação às ideias espíritas parte da má ou da nenhuma formação doutrinária, e também da incapacidade de perceber o alcance e profundidade da Doutrina. Por isso, tais pessoas se afastam. 

Muitos vão frequentando o centro espírita por mais ou menos tempo, até que o cansaço da rotina sem perspectiva para eles, chame a sua atenção para algo “lá fora”. 

Os que não chegam ao extremo da deserção assumem tarefas, às vezes, até de direção nas instituições, imprimindo tibieza doutrinária e invariabilidade nas atividades, quando não aplicam métodos pessoais que descaracterizam a função do centro espírita e da Doutrina.

Em outra obra, Herculano afirma: 

“Temos de abrir os olhos. De ver, com os olhos bem abertos, que o Espiritismo não é apenas uma palavra de consolo que nos caiu no coração em meio de nosso desespero; não é somente uma vaga suposição de como se processam a morte e a vida, no ciclo incessante das suas manifestações; não unicamente um pretexto para o desenvolvimento da nossa curiosidade, no trato dos fenômenos mediúnicos. Muito mais do que isso, o Espiritismo é o fermento da parábola evangélica, destinado a levedar toda a massa dos conhecimentos e das experiências do homem na Terra, para o estabelecimento do Reino de Deus entre todos os povos” [2]

Quem diz, portanto, que deixou de ser espírita, nunca o foi na realidade. Continuará buscando um caminho que atenda às suas expectativas de momento. 

Fontes:

[1] Pires, J. H. (2008). O mistério do bem e do mal. S. Bernardo do Campo: Correio Fraterno.

[2] Pires, J. H. (2017). O sentido da vida. São Paulo: Paidéia.

Imagem de Rosy / Bad Homburg / Germany por Pixabay

 


Edição: Agosto de 2025

Editorial: sem medo de pensar!, por Manoel Fernandes Neto e Nelson Santos

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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