Ainda sobre política e religião, por Cláudio Bueno da Silva

Tempo de leitura: 4 minutos

Cláudio Bueno da Silva

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Quem diz: “Eu não discuto política nem religião”, não compreende que essa discussão não precisa necessariamente penetrar nos meandros inconstantes dos partidos políticos e nem dar espaço a euforia e fanatismo.

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As relações humanas estão em crise. Os disparates comportamentais e a dificuldade de entendimento entre as pessoas são tão acentuados que chega-se a aconselhar que cada um se volte para si mesmo e aproveite o caos para refletir e amadurecer o Espírito. Mas será que essa decisão resolve os problemas?

Diante de um quadro grave de inversão e subversão de valores na sociedade, o que responder à própria consciência que nos cobra atitudes assertivas, fraternas, junto aos irmãos em humanidade? Como calar a indignação diante do erro e das injustiças que nascem da maldade, do cálculo e não somente da pura ignorância?

Por mais que se compreenda este momento diferente que atravessamos, cheio de provas pertinentes a todos, é difícil manter-se totalmente neutro, sem nenhuma indagação. 

Devemos permanecer calados, indiferentes, repetindo apenas que “tudo isso vai passar”, e que “são experiências necessárias para o aprendizado”? Somos obrigados a ficar alheios, sem interferir, de algum modo, no meio micro ou macro a que fomos chamados a viver? 

Muitos acham que não devemos intervir em questões políticas ou religiosas, por exemplo, porque isso não se discute, ou que seriam assuntos de ordem pessoal e geralmente causariam desavenças. No entanto, talvez sejam essas as principais causas de desentendimentos humanos. Possivelmente, a negligência em conversar sobre elas, ao longo do tempo, é que nos trouxe à alienação de hoje.

Política 

Todos fazem política o tempo todo e em todo lugar, e não somente quando votam. No sentido filosófico, há política em casa, na escola, no trabalho, nas compras do supermercado, nas relações com familiares, parentes e vizinhos, nos grupos de arte, nos torneios de futebol, na participação religiosa. Consciente ou inconscientemente fazemos política, com maior ou menor percepção.

Para entender melhor, basta saber que em nossas atividades cotidianas será preciso escolher, aceitar, rejeitar, conversar, dialogar, calar, propor, discordar, compreender, projetar, avaliar, e mais uma porção de verbos que permeiam nossas relações. Isto é política. Fazemos política doméstica, educacional, comercial, de saúde, de convivência, de boa vizinhança, enfim, política humana. 

De outro modo, como é necessário administrar e organizar a sociedade em seus interesses gerais e heterogêneos, criam-se agremiações que representem o pensamento e os anseios dos vários segmentos sociais. Essa é a política partidária, que envolve regime, ideologia, interesses, e da qual se servem os governos, com adaptações próprias.

O cidadão escolhe, vota e deve acompanhar o desempenho do seu candidato, exigindo que ele, como funcionário do Estado, tenha espírito público e trabalhe em benefício do bem comum. Essa escolha deve atender mais ao interesse coletivo da sociedade e menos aos interesses particulares do indivíduo. A isso se pode dar o nome de política cidadã. Um processo que deve ser natural, uma forma de todos colaborarem para o progresso geral. 

Se não estivermos satisfeitos com certos políticos, exerçamos nossa cidadania e procuremos melhorar esse meio com nossa participação consciente e refletida. Afinal, queiramos ou não, a política decide sobre as nossas vidas. Há maus homens em todas as atividades humanas, mas há bons também. Precisamos aprender a distingui-los. Homens melhores farão a política melhor, e ela deixará de ser vilã. 

Religião 

O educador Allan Kardec, em “O livro dos Espíritos”, pergunta qual seria a melhor doutrina, dentre tantas que pretendem ter a verdade exclusiva (questão 842). Os Espíritos, então, dizem: “Essa será a que produza mais homens de bem e menos hipócritas […]”.

A categórica resposta é suficiente para refletirmos sobre os movimentos religiosos da atualidade e sobre o nosso comportamento. Essa reflexão vai muito além da simples crença.

Na prática religiosa, assim como na política, é necessário conhecer-se o assunto. A História mostra os caminhos percorridos pelas religiões, e temos muito o que refletir sobre eles. Quantos e quantos, alheios à cultura geral, entram e saem dos templos e igrejas sem terem a mínima consciência do porque o fazem, se tornando vítimas alienadas de doutrinas falsas e seus mercadores da fé. Afastadas do conhecimento e da informação, ficam inibidas para consultarem a própria consciência.

Quem diz: “Eu não discuto política nem religião”, não compreende que essa discussão não precisa necessariamente penetrar nos meandros inconstantes dos partidos políticos e nem dar espaço a euforia e fanatismo. Se o debate se mantiver no campo das ideias e projetos de vida, muita coisa pode ser esclarecida para maior compreensão de todos.

No meio espírita, especificamente, uma pauta equilibrada e coordenada com inteligência, possibilitará discussões calmas e proveitosas. Mesmo porque a tolerância e o respeito que os espíritas devem demonstrar, darão o tom da fala e da audição, sem pretensão de convencimento. Reuniões sequenciais trarão desdobramentos e aprofundamentos incessantes. Todos ganharão. E é importante arejar a mentalidade dos espíritas sobre essas questões.

Fonte:

Kardec, A. (2009). “O Livro dos Espíritos”. 86. ed. São Paulo: Editora IDE.

Cidade do México – Palácio Nacional. Mural de Diego Rivera retratando a História do México: detalhe que mostra a Igreja e os militares como forças antirrevolucionárias. Imagem de Monica Volpin por Pixabay


Outubro de 2025

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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