Por Manoel Fernandes Neto e Nelson Santos
Medo é um sentimento dúbio. Pode nos proteger ou paralisar, a depender da dosagem e da situação. Viver é perigoso, pensar é desafiador, se expressar com honestidade é supostamente proibitivo em tempos atuais. Cancelamentos, “haters” ou comentários despropositados parecem nos obrigar ao silêncio. Não para o ECK.
O Coletivo ECK tem um posicionamento contundente em relação aos pressupostos da Doutrina Espírita e sua necessidade de diálogo com diversos temas da sociedade. Falar de guerra é entender a paz e a relação entre os seres; refletir sobre a adolescência e seus desafios é compreender os dias atuais; aprofundar-se no uso consciente das inteligências — artificial e humana — é caminhar por trilhas que podem desenhar o futuro. Política, sexualidade, sociedade, preconceitos, entre outros, são temas que não podem ser apartados do meio espírita.
Na revista Harmonia, são incontáveis os olhares sobre esses temas. Não se trata de ter uma pretensiosa “visão espírita”, como o senso comum convencionou classificar essas reflexões. Mas sim de traçar novos caminhos, em que a “letra” não signifique seu sentido maior, que é seu espírito — seu sentimento de exploração incessante. Novas rotas advindas dessa filosofia imortal que nos mostra (sempre!), que somos um devir, como classificou o professor Herculano Pires.
O destemor diante desses caminhos é a substância comum de todo o Coletivo ECK. A química — palavra da moda — é buscar incessantemente novas combinações moleculares para tempos que se impõem de forma inclemente diante de todos nós.
Sim, são tempos confusos, em que a ignomínia do ser humano permeia a sociedade. Todavia, o Espiritismo apresentado pelo Coletivo ECK permanece intrépido, vislumbrando o futuro e o progresso sem nenhum tipo de receio: uma ode a Kardec, ao atualizar seu legado de sólidos fundamentos.
Ao longo dos artigos, os leitores poderão apreciar a dinâmica desse pensamento kardeciano — atual e em constante ebulição:
Como Clarice Lispector em “Medo de Viver”, Marcelo Henrique abre a edição revisitando os medos que permeiam o ser humano em sua existência material. No artigo, kardeciano em essência, o pensador nos oferta o conhecimento como bálsamo e caminho de superação para responder a questão ‘Por que o Espiritismo destrói o medo em nós?‘, no texto “O medo sob a ótica espírita”.
Cláudio Bueno da Silva no texto “Ainda sobre política e religião” aprofunda-se no adágio largamente utilizado no Espiritismo brasileiro – ‘não discuto política nem religião’ – um ledo engano de quem assim procede, pois, esquece que o ser humano é eminentemente político e que religião não é um conceito pétreo; assim, a compreensão plena desses dois pontos poderá propiciar uma sociedade mais integrada e fraterna.
Prosseguimos em nossa jornada editorial com o artigo “Doutrinação? Reflexões Críticas e Caminhos Seguros na Mediunidade”, em que João Afonso G. Filho demonstra o equívoco dos grupos mediúnicos e suas diretrizes engessadas na prática da doutrinação de espíritos obsessores ou perturbados, pois não trata-se de afastar o mal e sim construir o bem, uma compreensão ampla, de ordem moral e educativa; sensibilizando, instruindo e ofertando caminhos para que ele reencontre a si mesmo.
A preocupação de grande maioria das casas espíritas em angariar adeptos propõe uma receita fadada ao fracasso: práticas padronizadas, estrutura diretiva verticalizada, estudos e práticas superficiais, distantes dos objetivos primordiais espíritas e daquele que nos serve de modelo e guia, Yeshua. Ou seja, a fraternidade, o amor e o esclarecimento educacional, facilitando a transformação moral que deveriam norteá-las é o cerne de “Jesus Crucificado: O Farisaísmo no Movimento Espírita” de Wilson Custódio Filho.
Já o artigo de Leonardo Paixão remete-nos ao pensamento filosófico do Professor Herculano Pires, ladeado pela reflexão de filósofos contemporâneos, Heidegger e Hegel, sendo o diálogo facilitador da concepção da evolução espiritual, destacando aspectos centrais entre a intratemporalidade do ser humano, em “O Espírito e o Tempo: Reflexões Filosófico-Espíritas a partir de Heidegger, Hegel e Herculano Pires”.
“Da Palavra à Telepatia: a evolução da comunicação e o futuro social da mente” de Wilson Garcia, é um ensaio sobre o avanço científico dos meios de comunicação, da telegrafia ao “smartphone”, como fator facilitador da evolução do ser humano ao ápice mental com a telepatia, com notados efeitos morais e éticos, facilitando uma consciência coletiva e transformadora da comunicação social.
Em tempo de debates sobre o progresso social, Jon Aizpúrua traz (em portuquês e espanhol) o texto “Espiritismo Progressista”, em que discorre sobre princípio norteador da compreensão do perfil filosófico, sociológico e ético da doutrina kardecista como fator de aprimoramento da sociedade, onde se alinham o progresso espiritual e o intelectual — uma concepção dinâmica, contemporânea, avançada, aberta aos avanços do conhecimento geral, disposta ao diálogo intercultural e sensível às necessidades materiais e espirituais do ser humano – uma perfeita harmonia onde seja possível um mundo melhor e mais justo.
Sem medo, vivenciemos o futuro!
Saboreie a edição; e boa leitura!