Jon Aizpúrua
***
Torna-se indispensável para todo ser humano a adoção de um código básico que oriente sua comunicação com aqueles que o rodeiam, desde os que formam seu núcleo familiar até aqueles que habitam em seu entorno ou integram a sociedade como um todo. Um código de valores éticos e estéticos que, ao ser aplicado, favoreça o enriquecimento recíproco de quem emite e quem recebe a mensagem, seja na ordem moral, social, cultural ou espiritual.
***
Em uma de suas mais conhecidas fábulas, Esopo serve-se desse precioso gênero literário para expressar que a língua, vale dizer a palavra, é a ferramenta mais poderosa, e ao mesmo tempo mais perigosa, ferramenta de que dispõem as pessoas para estabelecer relações de convivência com aqueles que as rodeiam. A língua é o melhor e também o pior. Com a língua, — diz Esopo — transmitem-se ideias, instrui-se, dialoga-se, lançam-se as bases da filosofia e da ciência, expressam-se os sentimentos, constroem-se as civilizações. Nada existe melhor do que a língua! No entanto, com a língua também se mente, se calunia, se fere, rompem-se as amizades entre as pessoas e lançam-se a guerra as nações. Nada existe pior do que a língua! A moral da história é clara: sendo a língua uma arma de dois gumes, corresponde a cada um a decisão de usá-la com uma finalidade construtiva ou destrutiva.
Certamente, as palavras são os materiais com os quais incessantemente construímos nossa vida. Usamo-las para nos conectarmos com o mundo ao nosso redor, forjarmos nossas relações e estabelecermos os vínculos que asseguram a coexistência e a perpetuação da espécie. Nomeiam o que existe, seja tangível ou intangível, presente ou ausente. A palavra falada nos faz humanos, e quando nos servimos dela para enaltecer e impulsionar o que há de bom em nós, nos torna melhores seres humanos, e é disso que se trata quando falamos de evolução espiritual.
A função social da linguagem
Nossos ancestrais reuniam-se ao redor do fogo e compartiam o calor e as palavras. Sherazade sobreviveu mil e uma noites contando histórias ao seu captor. Em diferentes épocas, bardos, jograis e trovadores teceram lendas, poemas e canções com os fios invisíveis da voz. E Jesus, o mais alto semeador de ideais e esperanças, falou ao povo em parábolas. Sob o escaldante calor, o filho do carpinteiro que se tornou mestre, narrava histórias curtas e simples que partiam do trabalho e os papéis cotidianos, seja o pescador, a viúva ou o samaritano. Era uma maneira efetiva de conectar sua mensagem com as pessoas, que gostosamente ouviam um relato que resultava tão próximo que bem poderia ser elas as protagonistas. O mesmo se pode dizer de Buda, de Sócrates e de outros instrutores espirituais que se valeram unicamente da oralidade como instrumento essencial de transmissão de seu maravilhoso discurso.
Em todas as épocas e culturas, os humanos têm necessitado conectar-se uns com os outros, e a linguagem tem sido a melhor ferramenta para consegui-lo. É certo que também nos comunicamos por meio de gestos e mensagens subliminares, mas esses recursos são demasiadamente tênues para serem percebidos com total nitidez por nossos sentidos, por isso, as palavras, faladas ou escritas, são o mais poderoso veículo para estabelecer e consolidar a interação entre as pessoas.
Desde que viemos ao mundo, em cada nova encarnação, as palavras assim como os pensamentos desempenham um papel essencial em nosso desenvolvimento. O cérebro do recém-nascido, integrado a um complexo sistema com o Espírito que o dirige, recebe estímulos do novo ambiente e vai configurando os enlaces neurais que facilitarão seus processos cognitivos e adaptativos. Falar aos bebês com ternura e em tom afirmativo durante os primeiros meses tem efeitos muito positivos a longo prazo em suas capacidades de raciocinar-se e se relacionar-se com os demais.
Com o passar do tempo, a tendência à socialização leva as crianças, os jovens e os adultos a reunirem-se e conversar para intercambiar ideias, compartilhar experiências, desfrutar de interesses comuns ou celebrar aniversários e outras festividades. Também os encontros aproveitam-se para comunicar inquietudes ou preocupações, e para dar ou receber solidariedade. Em qualquer caso, falar e compartilhar com os outros o que pensamos ou sentimos é muito reconfortante, sobretudo se tomamos em conta que vivemos em diversas sociedades, mutáveis e complexas, nas quais poderíamos confundir-nos ou extraviarmo-nos da razão ou do bom senso.
Naturalmente, não é possível ignorar o impacto que exercem em nosso mundo as redes sociais, por meio das quais recebemos e intercambiamos informações numa velocidade vertiginosa; mas, seguiremos insistindo, sem deixar de reconhecer esse feito objetivo e suas vantagens, em que nada substitui o contato humano e o impacto sensorial e perceptual que desencadeiam a presença e a comunicação direta por meio das palavras.
As palavras podem adoecer ou curar
Na prática médica ou psicológica, bem se conhecem os efeitos terapêuticos das palavras quando essas vão dirigidas a transmitir ao paciente confiança em si mesmo para sua recuperação, segurança em relação ao profissional que o atende e no tratamento recomendado e, ainda, na superação de crenças negativas que afetam o seu bem-estar físico e emocional. Disso dão boa conta os sistemas baseados no reconhecimento da condição psicossomática da enfermidade e a aplicação de estratégias centradas no poder curativo da expressão verbal como a psicanálise, a hipnose, a sofrologia, a logoterapia e a psicologia transpessoal.
A experiência religiosa, verificada durante milênios no ocidente e oriente, se tem apoiado muito no emprego de determinadas palavras ou frases que possuem a reputação de operar prodígios em favor de quem as pronunciam, por intercessão da divindade ou de seres espirituais que atuam em seu nome, atendendo ao pedido fervoroso do crente. Orações, preces, mantras, hinos de louvor ou súplicas são expressões de fé que adotam diferentes formas verbais, segundo as características psicológicas das pessoas, mas que, em geral, atendem à necessidade de entrar em contato íntimo com Deus. Sobre essa importante questão, vale recordar este ensinamento de Kardec: “A prece do coração é preferível à que podes ler, por mais bela que seja, se a leres mais com os lábios do que com o pensamento” (“O livro dos Espíritos”, Cap. II, Item IV – Da Prece, questão 658).
Nunca são inócuas as palavras. Geram sensações, propiciam imagens mentais, estão vivas e dão vida. Por isso, deveríamos repensar aquele aforismo de que as palavras são levadas pelo vento. Ao contrário, elas permanecem conosco, nos alegram ou nos martirizam as recordações, provocam reações, inspiram, fazem-nos agir e motivam à ação em quem as recebe.
Um código moral fundado na Verdade, na Bondade e na Utilidade
Havendo-se compreendido que as palavras, faladas ou escritas, recitadas ou cantadas, possuem uma força extraordinária e que mediante elas podemos elevar-nos ou rebaixar-nos espiritualmente, ferir ou curar, enaltecer ou prejudicar, construir ou destruir, abrir portas ou fechá-las, torna-se indispensável para todo ser humano a adoção de um código básico que oriente sua comunicação com aqueles que o rodeiam, desde os que formam seu núcleo familiar até aqueles que habitam em seu entorno ou integram a sociedade como um todo. Um código de valores éticos e estéticos que, ao ser aplicado, favoreça o enriquecimento recíproco de quem emite e quem recebe a mensagem, seja na ordem moral, social, cultural ou espiritual. Seguindo a frase de Montaigne: “A palavra é metade de quem a pronuncia e metade de quem a escuta”.
Quando se trata de definir os elementos que compõem esse código, nada mais oportuno do que recordar o ensinamento contido nos chamados “três crivos de Sócrates”, uma história ou anedota que se atribui ao genial filósofo ateniense. Segundo ela, um de seus discípulos contou-lhe que alguém, que se passava por amigo do sábio, havia falado muito mal dele. Sócrates lhe respondeu que, antes de escutar o que ele desejava dizer-lhe, a mensagem deveria passar por três crivos e que, se não os superasse, não seria digna de sua atenção. O primeiro crivo consistia a responder a esta pergunta: “Estás completamente seguro de que o que vai dizer-me é verdade?”. Em relação ao segundo crivo o mestre perguntou: “O que vai dizer-me é bom?”. E, em seguida, ele formulou a pergunta do terceiro crivo: ““Vai-me servir de algo o que tens a dizer-me?”. Diante das respostas negativas do discípulo, o mestre negou-se a escutar o que seu discípulo queria lhe contar e o advertiu: “Se o que queres dizer-me não é verdadeiro, nem bom e inclusive nem útil, para que eu deveria escutar?”.
A juízo do grande pensador grego, a verdade, a bondade e a utilidade, constituem imprescindíveis referências para que se produza uma comunicação honesta, saudável e construtiva. e não há dúvida de que essa soberana lição mantém intactas sua atualidade e validez, independentemente do tempo transcorrido. Há que estar, cada um de nós, prevenido diante dos charlatanismos que, infelizmente, abundam nos diversos espaços sociais/públicos. É evidente a falta de preocupação e compromisso dos expositores com a verdade ou a falsidade do que dizem, preocupados apenas com o efeito que suas palavras causam no público, de modo a manipularem as emoções para obter adesões e apoios.
Nada revela mais uma pessoa do que sua linguagem. Ao falar, declaramos inequivocamente quem somos e até onde chega a nossa formação cultural. Bem dizia Ludwig Wittgenstein [1]: “Os limites da minha linguagem significam os limites de meu mundo”. Por isso, é necessário que o nosso discurso esteja em plena correspondência com aquilo que honestamente pensamos e desejamos transmitir. Para consegui-lo há que se dispor de um léxico suficientemente rico para poder eleger não somente o termo justo, mas também o que possui maior eufonia e, portanto, o que é mais agradável aos ouvidos dos nossos interlocutores. Há que usar com propriedade e clareza a língua falada e escrita e, desta maneira, erradicar o vocabulário vulgar, que só empobrece a quem o emprega e só serve para ofender, incomodar ou agredir quem o escuta.
Como regra geral, nossas palavras devem ser cordiais, amáveis, agradáveis. Usá-las quando se cumprimenta, quando se agradece, quando se solicita algo, quando se reconhece os méritos dos outros, revela a pessoa imbuída de bons sentimentos e atitude positiva diante do próximo. Dar-lhes bom dia é um sinal de sensibilidade e respeito para com o outro. Um simples “por favor” suaviza um pedido; um “obrigado” demonstra gratidão, encerrando a interação de maneira positiva.
Todos os conceitos aqui apresentados se encaixam perfeitamente na ética proposta pelo Espiritismo, cujo propósito primordial, em plena sintonia com o seu ensino sobre a imortalidade da alma e sua evolução palingenésica, aponta para uma enriquecedora transformação moral das pessoas como pilares em que se sustenta a edificação de uma sociedade melhor, mais justa, livre e amorosa, a que todos devemos aspirar e pela qual devemos empenhar todos os nossos esforços.
Referências:
[1] Ludwig Wittgenstein (Viena 1889 – Cambridge 1951). Filósofo, matemático, linguista e lógico austríaco, posteriormente nacionalizado britânico. Wikipedia.
Nota do ECK: Artigo originalmente publicado, em espanhol (versão abaixo), no boletim “Flama Espirita”, órgão de difusão do Centro Barcelonês de Cultura Espírita, ano XLV, n. 196, de abril/junho de 2025. Livre tradução por Nelson Esteves dos Santos.
Imagem de Erich Röthlisberger por Pixabay
**********************************************
La fuerza de las palabras
Jon Aizpúrua
***
Se torna indispensable para todo ser humano la adopción de un código básico que oriente su comunicación con quienes le rodean, desde los que forman su núcleo familiar hasta quienes habitan en su entorno o integran la sociedad en su conjunto. Un código de valores éticos y estéticos que al ser aplicado coadyuve al enriquecimiento recíproco de quienes emiten y quienes reciben el mensaje, sea en el orden moral, social, cultural o espiritual.
***
En una de sus más conocidas fábulas, Esopo se sirve de este precioso género literario para expresar que la lengua, vale decir la palabra, es la más poderosa, y a la vez peligrosa, herramienta de que disponen las personas para establecer relaciones de convivencia con quienes les rodean. La lengua es lo mejor y también lo peor. Con la lengua -dice Esopo- se trasmiten las ideas, se instruye, se dialoga, se sientan las bases de la filosofía y la ciencia, se expresan los sentimientos, se construyen las civilizaciones. ¡Nada existe mejor que la lengua! Sin embargo, con la lengua se miente, se calumnia, se hiere, se rompen las amistades entre las personas y se lanzan a la guerra las naciones. ¡Nada existe peor que la lengua! La moraleja es clara: siendo la lengua un arma de doble filo, corresponde a cada uno la decisión de emplearla con una finalidad constructiva o destructiva.
Ciertamente, las palabras son los materiales con los que incesantemente construimos nuestra vida. Las usamos para conectarnos con el mundo que nos rodea, forjar nuestras relaciones y establecer los vínculos que aseguran la coexistencia y la perpetuación de la especie. Señalan lo que existe, sea tangible o intangible, presente o ausente. La palabra hablada nos hace humanos y cuando nos servimos de ella para enaltecer e impulsar cuanto de bueno hay en nosotros, nos hace mejores seres humanos, y de esto se trata cuando aludimos a la evolución espiritual.
La función social del lenguaje
Nuestros ancestros se reunían alrededor del fuego y compartían el calor y las palabras. Sherazade sobrevivió mil y una noches contando historias a su captor. En diversas épocas, bardos, juglares y trovadores fueron tejiendo leyendas, poemas y canciones con los hilos invisibles de la voz. Y Jesús, el más alto sembrador de ideales y esperanzas, habló a la gente en parábolas. Bajo el abrasante calor, el hijo del carpintero devenido en maestro, narraba historias breves y sencillas que partían de la faena y los roles cotidianos, sea el pescador, la viuda o el samaritano. Era una manera efectiva de conectar su mensaje con las personas que gustosamente escuchaban un relato que resultaba tan próximo que bien podrían ser ellas las protagonistas. Lo mismo podría decirse de Buda, de Sócrates y de otros instructores espirituales que se valieron únicamente de la oralidad como instrumento esencial para transmitir su maravilloso discurso.
En todas las épocas y culturas, los humanos han necesitado conectarse unos con otros y el lenguaje ha sido la mejor herramienta para conseguirlo. Es cierto que también nos comunicamos por medio de gestos y mensajes subliminales, pero estos recursos son demasiado tenues para ser percibidos con total nitidez por nuestros sentidos, por lo que siguen siendo las palabras, habladas o escritas, el más poderoso vehículo para establecer y consolidar la interacción entre las personas.
Desde que venimos al mundo, en cada nueva encarnación, las palabras igual que los pensamientos juegan un papel esencial en nuestro desarrollo. El cerebro del recién nacido, integrado en un complejo sistema con el espíritu que lo dirige, recibe los estímulos de su nuevo entorno y va configurando los enlaces neuronales que facilitarán sus procesos cognitivos y adaptativos. Hablar a los bebés con ternura y tono afirmativo durante los primeros meses tiene efectos muy positivos a largo plazo en sus capacidades para razonar y relacionarse con los demás.
Con el paso del tiempo la irrefrenable tendencia a la socialización lleva a los niños, a los jóvenes y a los adultos a reunirse y conversar para intercambiar ideas, compartir experiencias, disfrutar de aficiones comunes o celebrar aniversarios u otras festividades. También los encuentros se aprovechan para comunicar inquietudes o preocupaciones, y para dar o recibir solidaridad. En cualquier caso, hablar y compartir con otros lo que pensamos o sentimos es muy reconfortante, sobre todo si tomamos en cuenta que nos hallamos en sociedades diversas, cambiantes y complicadas, en las que podríamos confundirnos o extraviarnos de la razón o del buen sentido.
Naturalmente, no es posible obviar el impacto que ejercen en nuestro mundo las redes sociales, por medio de las cuales recibimos e intercambiamos información a una velocidad vertiginosa, pero seguiremos insistiendo, sin dejar de reconocer este hecho objetivo y sus ventajas, en que nada sustituye al contacto humano y al impacto sensorial y perceptual que desencadenan la presencialidad y la comunicación directa por medio de las palabras.
Las palabras pueden enfermar o pueden sanar
En la práctica médica o psicológica bien se conocen los efectos terapéuticos de las palabras cuando éstas van dirigidas a transmitir al paciente confianza en sí mismo para su recuperación, seguridad en el profesional que le atiende, en el tratamiento recomendado y en el desarraigo de creencias negativas que afectan su bienestar físico y emocional. De esto dan buena cuenta los sistemas basados en el reconocimiento de la condición psicosomática de la enfermedad, y la aplicación de estrategias centradas en el poder curativo de la expresión verbal como el psicoanálisis, la hipnosis, la sofrología, la logoterapia y la psicología transpersonal.
La experiencia religiosa verificada durante milenios, en occidente y oriente, se ha apoyado mucho en el empleo de determinadas palabras o frases que poseen la reputación de obrar prodigios en favor de quienes las pronuncian, bien sea por la intercesión de la divinidad o por seres espirituales que actúan en su nombre, atendiendo al pedido fervoroso del creyente. Oraciones, plegarias, mantras, himnos de alabanzas o rogativas, son expresiones de fe que adoptan formas verbales diferentes según las características psicológicas de las personas, pero que en general atienden a la necesidad de entrar en contacto íntimo con Dios. Sobre esta importante cuestión, conviene recordar esta enseñanza de Kardec: “La oración del corazón es preferible a la que puedes leer, por bella que ésta sea, si lo haces más con los labios que con el pensamiento” (“El libro de los Espíritus”, Capítulo II, Punto IV – De la Oración, pregunta 658).
Nunca son inocuas las palabras. Generan sensaciones, propician imágenes mentales, están vivas y dan vida, por lo que deberíamos replantearnos aquello de que las palabras se las lleva el viento. Al contrario, se quedan con nosotros, nos alegran o nos martirizan los recuerdos, provocan reacciones, inspiran, nos hacen actuar y motivan a la acción en quienes las reciben.
Un código moral fundado en la Verdad, la Bondad y la Utilidad
Habiéndose comprendido que las palabras, habladas o escritas, recitadas o cantadas, poseen una fuerza extraordinaria, y que mediante ellas podemos elevarnos o rebajarnos espiritualmente, podemos herir o curar, enaltecer o perjudicar, construir o destruir, abrir puertas o cerrarlas, se torna indispensable para todo ser humano la adopción de un código básico que oriente su comunicación con quienes le rodean, desde los que forman su núcleo familiar hasta quienes habitan en su entorno o integran la sociedad en su conjunto. Un código de valores éticos y estéticos que al ser aplicado coadyuve al enriquecimiento recíproco de quienes emiten y quienes reciben el mensaje, sea en el orden moral, social, cultural o espiritual. Siguiendo la frase de Montaigne: “La palabra es mitad de quien la pronuncia y mitad de quien la escucha”.
Cuando se trata de precisar los elementos que forman parte de ese código, nada es más oportuno que recordar la enseñanza contenida en los denominados “tres filtros de Sócrates”, una historia o anécdota que se atribuye al genial filósofo ateniense. Según ella, uno de sus discípulos le contó que alguien que pasaba por amigo del sabio había hablado muy mal de él. Sócrates le respondió que antes de escuchar lo que deseaba decirle, el mensaje debía pasar por tres filtros y si no los superaba, no sería digno de su atención. El primer filtro consistía en responder a esta pregunta: ¿Estás completamente seguro de que lo que vas a decirme es verdad? En relación con el segundo filtro el maestro preguntó: ¿Lo que vas a decirme es bueno? Y enseguida le formuló la pregunta del tercer filtro¿ Me va a servir de algo lo que tienes que decirme? Ante las respuestas negativas del discípulo, el maestro se negó a escuchar lo que su discípulo quería contarle y le advirtió: Si lo que quieres decirme no es cierto, ni bueno e incluso no es útil, ¿para qué yo debería escucharlo?
A juicio del gran pensador griego, la verdad, la bondad y la utilidad, constituyen referencias imprescindibles para que se produzca una comunicación honesta, saludable y constructiva, y no cabe duda de que esta soberana lección mantiene intactas su actualidad y validez, con independencia del tiempo transcurrido. Hay que estar prevenidos ante la charlatanería que infelizmente abunda en los diversos espacios del poder público y se manifiesta en que los expositores no se preocupan por la verdad o la falsedad de lo que dicen sino del efecto que causan sus palabras sobre los oyentes, y de este modo manipulan las emociones para generar adhesiones.
Nada revela más a la persona que su lenguaje. Al hablar declaramos inequívocamente quienes somos y hasta dónde llega nuestra formación cultural. Bien decía Ludwig Wittgenstein [1]: “Los límites de mi lenguaje significan los límites de mi mundo”. Por esto, es necesario que nuestro verbo se halle en plena correspondencia con lo que honestamente pensamos y deseamos transmitir, y para conseguirlo hay que disponer de un léxico suficientemente rico para poder elegir no solamente el término justo sino también el que posee mayor eufonía y por lo tanto es más agradable a los oídos de nuestros interlocutores. Hay que usar con propiedad y limpieza la lengua hablada y escrita, y de esta manera, erradicar el vocabulario soez que solo empobrece a quien lo emplea y solo sirve para ofender, molestar o agredir a quien lo recibe.
Como regla general, nuestras palabras deben ser cordiales, amables, agradables. Emplearlas cuando se saluda, cuando se agradece, cuando se solicita algo, cuando se reconoce el mérito de otros, revela a la persona de buenos sentimientos y positiva actitud ante su prójimo. Dar los buenos días es una señal de sensibilidad y respeto hacia el otro. Un simple “por favor” suaviza una solicitud, un “gracias” muestra gratitud y cierra la interacción de manera positiva.
Todos los conceptos aquí planteados encajan perfectamente en la ética propuesta por el Espiritismo, cuyo propósito primordial, en plena sintonía con su enseñanza sobre la inmortalidad del alma y su evolución palingenésica, apunta a una enriquecedora transformación moral de las personas como pilar en el que se sustenta la edificación de una sociedad mejor, más justa, libre y amorosa, a la que todos debemos aspirar y por la que todos debemos empeñar nuestros esfuerzos.
Referencias:
[1] Ludwig Wittgenstein (Viena 1889 – Cambridge 1951). Filósofo, matemático, lingüista y lógico austríaco, posteriormente nacionalizado británico. Wikipedia.
Nota del ECK: Artículo publicado originalmente en el boletín Flama Espirita, Órgano de difusión del CBCE – Centre Barcelonés de Cultura Espirita, n. 196, año XLV, abril/junio 2025.
Imagem de Erich Röthlisberger por Pixabay