A morte de um ícone, por Marcelo Henrique

Tempo de leitura: 4 minutos

Marcelo Henrique

Foto pixabay

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Elizabeth II, na qualidade de representante estatal do Reino Unido, dentro do cenário das relações entre os Estados e a vigência e coexistência de regimes democráticos e não democráticos, teve importância mundial e isto, de fato, materializou a circunstância qualificadora da missão espiritual por ela assumida, antes de reencarnar.
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Neste oito de setembro de 2022, um dos maiores ícones dos séculos XX e XXI deixou o plano físico, cumprindo uma etapa de 96 anos. Encarnações longevas tem se tornado muito mais comuns, em grande parte pelos avanços da medicina e pelas condições de vida que a modernidade tem proporcionado. Não para todos, nem para a maioria, é claro, tendo em vista que, em termos espíritas-espirituais, cada ser retorna à existência corporal com metas e objetivos que são peculiares e distintos, de pessoa a pessoa. Igualmente, o “uso” que se faz da matéria – em especial a vestimenta carnal que nos serve de morada – também é determinante para a variação temporal da vida material.

Como figura pública e, destacadamente, como portadora de uma missão significativa no contexto de seu povo e territórios, Elizabeth Alexandra Mary (1926-2022) foi rainha do Reino Unido e mais quatorze Estados independentes, desde 1952, sendo, também, Chefe da “Commonwealth” – a organização composta por cinquenta e três países independentes. Com 70 anos de reinado, completados em 6 de fevereiro deste ano, foi a única monarca britânica a completar um Jubileu de Platina, ficando, na história das monarquias apenas atrás de Luís XIV, o “Rei Sol”, da França, com 72 anos e 110 dias de reinado. Em compensação, Luís faleceu com menos idade, 77 anos.

Quando se pensa, à luz do conhecimento espírita e, principalmente, a partir da afirmação atribuída a Kardec e insculpida no dólmen de sua sepultura, no Père-Lachaise, em Paris, de que “nascer, morrer, renascer ainda e progredir continuamente, tal é a lei”, naturalmente se tem a noção de que vida e morte são como duas faces de uma mesma moeda e que, pela Filosofia Espírita, as vindas e as idas são processos naturalmente necessários para que a Lei do Progresso (Espiritual) se processe para todos nós, Espíritos.

Todavia, o desencarne de personalidades públicas, da política (como Elizabeth II), das artes, da filosofia, das ciências, dos esportes, etc., costuma causar destacada comoção entre os que as admiram, sobretudo pela ausência delas em relação aos (nossos) olhos físicos. O sentimento, assim, é o de tristeza, mesmo que, em tais casos, seja, de fato, uma pessoa distante, sem vínculos de parentesco ou amizade. O fato é que a importância que damos aos “ídolos” nos faz acompanhar suas trajetórias, atos, feitos e declarações, como se houvesse, até intimidade entre o “fã” e aquele que se admira.

Por isso, a morte (desencarne) da rainha é algo que motivou, neste dia, grande comoção internacional, pela representatividade do Reino Unido no planeta, e pela condição de uma mulher forte, de fibra, importante para a História, sobretudo no Século XX. Vale salientar a relevância de Elizabeth para a geopolítica mundial, inclusive considerando a II Guerra e outros conflitos bélicos, nos anos e décadas que se seguiram. Não está “em jogo”, entretanto, a questão das ideologias sociopolíticas e nem o conservadorismo do governo britânico. Não é objeto deste artigo.

Neste contexto, na interpretação espírita, vale ponderar a respeito das categorias que compõem a vida espiritual, sobretudo no quadrante da vida de encarnados, sabe-se, pela teoria espírita, que tais categorias são as provas, as expiações e as missões. Interessa-nos, em relação à monarca inglesa, mais propriamente, as primeiras e as últimas. Dentre as provas, salienta-se que a condição de Chefe de Estado, com as sucessivas crises administrativas, a nomeação dos primeiros-ministros durante décadas e as relações diplomáticas por todo o seu reinado, assim com a própria gestão da “família real” e os conflitos existentes em qualquer organização familiar, constituem-se como expressivas provas para este Espírito. No conjunto da missão encarnatória, a qualidade de representante estatal, considerados os mesmos elementos acima descritos, dentro do cenário das relações entre os Estados e a vigência e coexistência de regimes democráticos e não democráticos, faz com que a importância mundial da rainha seja, de fato, uma circunstância qualificadora da missão espiritual por ela assumida, antes de reencarnar.

Por fim, considerando a ritualística vigente no “Commonwealth” e na liturgia britânica, tem-se que os funerais da Rainha Elizabeth II, que deverão se estender por sucessivos dias e a cerimônia de sepultamento será acompanhada por milhões de pessoas. Lembre-se, por sinal, como foi em relação à Princesa “Lady” Diana, uma personagem tão icônica como a monarca principal do Reino Inglês. E, assim, a morte elevará Elizabeth, ainda mais, à categoria de ídolo internacional, com a mitificação da personagem, envolvendo a provável romantização de episódios de sua vida e a comoção em relação aos fatos mais relevantes.

O Espírito de Beth II – imortal – sob a ótica espírita, acompanhará muito provavelmente as últimas homenagens que lhe serão prestadas, considerando-se inclusive que sua morte se deu por condições naturais (“esgotamento dos órgãos”, na dicção espiritista), apesar de enfermidades peculiares à condição de velhice. E poderá se sensibilizar, não com a ritualística em si, mas com os sentimentos sinceros, muito além das aparências físico-materiais – que ela perceberá, em função da leitura espiritual dos pensamentos –, isto é, a real lembrança e a saudade que os presentes sentirem da “morta”. Recomendamos, nesse particular, a leitura dos itens 320 a 329, de “O livro dos Espíritos”.

De nossa parte, fica a lembrança da magnitude desta importante mulher para a história contemporânea da Humanidade. Para conhecer um pouco mais sobre Elizabeth II, recomendamos a série “The Crown” (“A Coroa”, simbolizando “A Rainha”) na plataforma NetFlix. Então, como é a letra do hino britânico, podemos repetir, pela última vez: “God save the Queen!” (“Deus salve a Rainha!”).

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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