Entre máscaras e aplausos: vozes vazias, por Felipe Felisbino

Tempo de leitura: 2 minutos

Felipe Felisbino

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É necessário recuperar o espaço da reflexão. Democracia não sobrevive apenas de votos ou de instituições formais; exige indivíduos capazes de questionar, ponderar e dialogar, antes de aceitar qualquer narrativa. Sem isso, continuaremos presos em nossos guetos do pensamento, manipulados, divididos e incapazes de exercer, de forma crítica, nosso papel na sociedade.

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Vivemos um tempo em que nossas comunidades já não são apenas físicas, mas digitais. Redes sociais e grupos “on-line” criam tribos modernas, onde regras de comportamento, opiniões e até emoções nos são impostas. Diferentemente das tribos ancestrais, que habitavam guetos geográficos, hoje vivemos em guetos do pensamento, manipulados por algoritmos e pela circulação acelerada de informações, muitas vezes, superficiais.

A capacidade de influenciar o comportamento de outras pessoas é característica de inúmeros atores sociais que atravessam o nosso cotidiano. O poder exercido por essas figuras, seja para o bem ou para o mal, frequentemente provoca desconfiança e temor. Foi assim com os contemporâneos de Sócrates, que o condenaram à morte sob a acusação de corromper a juventude. Em outros tempos a multidão crucificou aquele que nos trouxe a Boa Nova e alguém lavou as mãos, atendendo o clamor da comunidade, para “ficar bem na foto”.

Hoje, essa crítica se enquadra nos líderes de opinião. O que dizem ou deixam de dizer é relevante para aqueles que com ele se identificam e se impressionam com sua(s) fala(s). Neste contexto, difundem-se “verdades” absolutas. A influência deveria decorrer do conhecimento, a referência que confere prestígio e credibilidade, mas, cada vez mais, o prestígio é substituído pelo carisma e pela adesão acrítica, sem análise.

Nesse ambiente, atacar instituições se tornou mais fácil do que refletir sobre elas. É mais cômodo, assim, desqualificar do que compreender suas funções. Grupos de pressão emocional, mobilizados por “likes”, compartilhamentos e memes, moldam nossa percepção da realidade. As decisões coletivas, as políticas públicas e os debates sociais passam por esse filtro tribal, onde a complexidade se reduz e a reflexão é substituída por reações instantâneas.

A saída, no entanto, não está em desligar-se da rede, mas em recuperar o espaço da reflexão. Democracia não sobrevive apenas de votos ou de instituições formais; exige indivíduos capazes de questionar, ponderar e dialogar, antes de aceitar qualquer narrativa. Sem isso, continuaremos presos em nossos guetos do pensamento, manipulados, divididos e incapazes de exercer, de forma crítica, nosso papel na sociedade.

Imagem de Chico Barros por Pixabay


Novembro de 2025

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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