Kardec sempre primou por afastar o Espiritismo das crenças pessoais. Mas, como cientista e pesquisador, selecionou teorias que mais se conciliavam com seus entendimentos particulares, como qualquer humano o faria. Daí a guinada que ele dá, sobre a definição da Divindade, saindo da neutralidade para, seduzido pelas mensagens assinadas por Espíritos claramente identificados com o pensamento cristão, assumir a conotação de pessoalidade divina (um Deus à imagem e semelhança do homem).
No meio espírita contemporâneo, o contexto mais preocupante é a dogmatização do que "veio do Além", a validação sem exame crítico e lógica fundada nos princípios espíritas, de qualquer mensagem mediúnica, inclusive em relação aos próprios textos kardecianos, muitos dos quais produzidos para contextos sócio-históricos que desapareceram com o progresso humano-social.
O próprio Kardec alertou que o Espiritismo SÓ se rejuvenesceria e manteria a sua permanência no contexto da Humanidade, em duas situações: a primeira em função de "novas revelações" espirituais (compatíveis com o nível individual-social dos séculos vindouros), e a segunda, acompanhando a pesquisa e as comprovações das Ciências.
Mas, distante disso, temos um enorme contingente de espíritas - a maioria absoluta, dizemos nós - presos ao dogmatismo das convicções religiosas, políticas, econômicas, sociais e... doutrinárias. A pergunta, então, é: há como superar esse imobilismo dogmático e essa ortodoxia, não só de conceitos, mas, também, e mais fortemente, de atitudes e comportamentos? Kardec gostaria de ver isso entre nós e esta seria a prova inconteste de que, de fato, ENTENDEMOS a proposta espírita. Você não pensa assim?
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