Não assistirei “Nosso Lar – 2”, por Jerri Almeida

Tempo de leitura: 2 minutos
Jerri Almeida
Quem assiste esse tipo de filme, aceita – no geral cegamente –, que isso é verdade.
Sou um sujeito cartesiano demais! Nosso Lar-1, fui ver no cinema. Tive a impressão de estar assistindo um filme de terror: umbral, trevas, fiquei impactado negativamente. Teologia do medo? Parecia! Um médico, com vícios e virtudes, como qualquer ser humano, foi parar oito anos numa região de sofrimento por qual motivo? Foi um assassino? Um genocida? Um torturador? Um psicopata? Não, foi apenas um ser humano! Estranho isso, não? Pra mim, sim!
E essas histórias de “ovóides”, “vampiros”, “zumbis”? Continuo achando estranho. Desconfio dessas narrativas. Herculano Pires escreveu um livro intitulado “Vampirismo” para questionar essas “pseudo-meta-narrativas” do tal “repórter do além”. E o filme ainda possuía ares de Céu, pessoas mais “elevadas” de “roupa branca”. Eu gosto do colorido! Inclua-se, obviamente, o preto, também.
Que provas contundentes existem que esse personagem, André Luiz, é verdadeiro? Nenhuma. Que critérios de análise dos livros psicografados por Chico Xavier foram aplicados para aferir a suposta veracidade de seus informantes, em se comparando com os critérios de Kardec? Nenhum! Então, é mais uma ficção literária e cinematográfica, quase estilo hollywoodiana.
Desculpem-me os mais conservadores! Não faço parte do grupo que invade, avidamente, salas de cinemas pelo Brasil afora, para assistir Nosso Lar – 2. Prefiro filmes de suspense, policial, aventura, documentários, dramas. Devo estar com meu passaporte certo para o Umbral, segundo André Luiz. Fazer o quê? Sou humano, demasiado, humano!
Como afirmou Peter Gay [1]:

“a verdade é um instrumento opcional da ficção, não sua finalidade essencial”.

O problema é que quem assiste esse tipo de filme, aceita – no geral cegamente –, que isso é verdade. Entretanto, para os estudiosos da filosofia espírita, abandonar a intenção de um conhecimento construído epistemologicamente, como o fez Kardec [não que Kardec seja critério absoluto de verdade], seria deixar o campo livre para todas as falsidades que, por traírem o conhecimento, ferem a própria teoria.
Como esse filme colabora para plasmar um imaginário “espírita” da “vida no além”? A literatura (pois o filme é baseado no livro) não é apenas um fenômeno estético, mas também uma manifestação de ideias, cuja intencionalidade deve ser escavada pela análise crítica.
Se Kardec fosse ao cinema assistir Nosso Lar-2, seria, certamente, para escrever algum ensaio crítico sobre ele na Revista Espírita. Ou, não?
Nota do Autor:
[1] GAY, Peter. O estilo da história. São Paulo: Cia das Letras, 1990. p. 172.

Imagem de Daniel Reche por Pixabay

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