As lágrimas vieram e não pude conte-las. Chorei na frente de todos.
Era apenas um grupo de jovens cantando. Eles haviam dirigido uma participação no simpósio.
Compenetrados e nervosos, estreavam num evento maior, que reuniu mais de 100 pessoas.
Enquanto aquele grupo de moças e rapazes cantavam, vi-me voando no tempo, no aprendizado, nas lutas e nos combates em prol da obra de Kardec.
Chorei diante da multidão. Como evitá-lo? Como disse o poeta, na visita à casa paterna, uma saudade gemia em cada canto, em cada canto gemia uma saudade.
E, como ele, o pranto jorrou-me em ondas...
[...]
Ali, sentado na primeira fila, a emoção invadiu-me sem remédio.
Emocionei-me até a raiz da alma. Mistura, talvez, das emoções do evento com lembranças recônditas, subitamente trazidas ao consciente.
Nenhuma nostalgia, pois vivo intensamente o tempo presente, meu tempo é hoje, minha idade, minhas ideias, projetos...
Nenhuma volta ao passado, mas a vibração do presente na voz dos jovens...
Em certos momentos, fazemos um retrospecto sem imagens, nem ideias.
Nossa vida volta sem formas, dominada pelo poderoso sentido da emoção, que nos invade, nos domina.
Aqueles jovens eram os representantes de centenas de jovens que se revezaram ao longo desses anos,
mantendo viva a semente plantada, ampliando-a, reduzindo-a, remodelando-a, mas mantendo-a viva.
Agora, enquanto escrevo, passam pela minha visão, os rostos desses jovens que marcaram época e que comigo caminharam.
Alguns mortos outros ainda aqui e outros caminhando seu caminho.
Por momentos, antigos companheiros desfilaram na visão da alma e resgato seus sorrisos, suas formas particulares de viver.
Penso que plantei uma boa semente.
Algumas caíram em terreno apropriado a crescer com firmeza, dando frutos.
Outras brotaram sem profundidade, logo morrendo.
Por fim, as que encontraram um solo que não permitiu que a semente morresse no coração para surgir vigorosa no transcorrer dos anos.
[...]
Desfilaram pessoas com suas opiniões e visões. O Simpósio fora um sucesso.
O ar estava impregnado de emoção, uma viva sensação de saudade e de alegria porque havíamos convivido três dias com intensa troca de afeto, inteligência, perguntas e respostas.
Dentro de pouco tempo cada um partiria para o seu dia-a-dia, levando saudades, amizades e esperanças de um breve reencontro.
As lágrimas secaram. Senti-me revigorado, embora cansado pela emoção.
Novos caminhos seriam caminhados. Novos empreendimentos, esperanças.
Vieram-me à mente os versos de Gonzaguinha que cantamos no workshop “viver e viver, sem ter vergonha de ser feliz”.
Saí. O sol brilhava e o céu estava azul. A felicidade invadiu-me a alma.
Jaci Regis, "Chorei diante de todos" (2001). |